A vida não é procura. É o encontro. A arte de saber encontrar em nós o que resta do que fomos e saber ler na nossa pele as linhas escritas por outras mãos; saber reconhecer nas memórias os cheiros de outros viveres, de outras estórias. A vida, em geral, é o reviver. Como se no amanhã, o que somos não fosse só nosso e não fôssemos já apenas nós. Mas, sim, outros que respiram connosco; outros que caminham connosco.
A vida nunca somos nós, somente. Somos nós e o que nos acontece de exactamente sermos assim. Nós somos as mãos que nos tocaram, somos as palavras que ouvimos, as imagens que vimos, as cinzas que brotam no cabelo e as linhas marcadas no rosto; o calor que sentimos e os arrepios repentinos, em noites de vento frio. Somos nós, mas não é nosso. Nós somos isso mesmo, esse todo num só.
Cada raio de Sol, cada gargalhada e grito mais acesos; Cada passo e cada olhar, cada sombra e brisa. E noites longas e dias curtos. Cada um dos regressos e das despedidas. Das perdas e das conquistas. E quando, sentados, lembrarmos todas e cada uma das coisas e nos lembrarmos a nós, todas elas voltarão para nos mostrar que o ontem foi sempre e apenas uma parte pequena e a face incompleta do amanhã.
Como muito bem diria Vergílio Ferreira: "a felicidade não está no que acontece, mas no que acontece em nós desse acontecer."