Rewind

sábado, 25 de abril de 2009

Filme mudo

Às vezes, ouvia as palavras que já não lhe diria. Ou as coisas que não mais lhe ouviriam. Via como ainda podiam ser doces as palavras acima do corpo que já não havia. Como ainda se demorava o contorno fácil de um gesto que já não nasceria. Então percebia como podiam demorar-se em nós os votos e os passos outrora seguros do caminho. Guardava tantas vezes esse "ainda-amor", esse filme mudo que era o único a ver e que nascia para não ser.
Rasgava-lhe o orgulho esse arranhar da saudade. E, de súbito, enchia-lhe o peito essa imagem inteira que o desejo trouxera para que dormisse no leito do pó onde moramos nós com o que foi nosso.

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