ditos todos assim com a pressa dos que se amam com verdade -
esvazio os bolsos fundos na folha ainda em branco -
e mais do que poesia, é amor tudo o que teu trago comigo
entre nós, mãe, há poemas meus que falam de cafés, de livros trocados,
dos erros que a gramática trapalhona dos amores acesos deixa no papel e na pele
de passeios, mesas de jantares felizes ou de janelas de onde se veja o teu rosto
porque poesia, mãe, podem muito bem ser as flores que o teu amor faz nascer nos canteiros de cimento da vida.
amar-te-ei sempre, querida mãe, com a pressa de quem chega da rua
de quem, mesmo no escuro, se guia pelo teu cheiro nas curvas da casa e sempre te encontra
os olhos demorando-se nos vincos da tua pele quando sorris ou a doçura nas tuas mãos que me pousas no ombro, mesmo antes de eu sair,
Mamã, amo-te,
os degraus engolidos e um último olhar meu como que certeiro no teu coração - que te abrace, te chegue, nos baste e te agradeça, meu amor.
por isso, mãe, alguns poemas falam de tudo quanto um filho acumula no bolso das calças gastas -
os dedos a pescarem a infinita bondade com que me esperaste sempre,
todas as vezes em que inventaste uma resposta só porque eu precisava que a verdade doesse menos
e ser tudo isso amor - uns jeans, um filho com pressa para chegar a casa e alguém que sempre o esperou
riem-se da nossa poesia tonta, os que vêem um filho guardar o amor da mãe nos jeans
e talvez, até, que não haja poesia alguma nem sejam versos sequer as vezes em que -
voltei a passear contigo na praia,
te levei a jantar só comigo,
me aninhei no silêncio em que deixas não ser preciso falar
talvez, querida mãe, não seja isso um poema.
mas, mãe, deixa, por favor, que continue a poder amar-te como quem despeja do bolso dos jeans coisas esquecidas e que, de repente, me lembram de que o teu amor é o chão de todos os meus caminhos.
riam-se os que não lhe chamam poesia - eu escolherei sempre chamar-lhe amor, mãe.
chamando-lhe poesia ou não, sabe tu ao menos
que mesmo quando a métrica não esteja certa
e eu fale de coisas pouco dignas de versos muito pensados
tu, mais que ninguém, sabe que, se é amor, é poesia,
porque o meu coração não desiste de chamar por ti.
Amo-te.
RM| XXIII-VII-MMXVII
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