o rapaz aprendera a ver o céu nos olhos de M.
M. tinha o hábito de lhe sorrir como uma janela aberta num dia de sol
e o rapaz gostava disso.
disseram-lhe na escola,
o céu é azul, R.
e para sempre o céu havia de estar nos olhos de M.
porque aquele fora o azul mais bonito que ele vira.
porque esse era o lugar onde repousavam todos os que M. nunca deixou morrer.
porque esse era o caminho mais curto para casa.
(sempre.)
e o rapaz tinha tanta pressa de chegar a casa.
M. sorria-lhe todas as vezes como se a espera, finalmente, não fosse doer mais,
R, meu amor, como foi a escolinha?
R., antes das palavras, quis dizer com um abraço que confirmara que o céu sempre era azul.
azul-só-meu,
as crianças inventam sempre amores egoístas como se fossem levar no bolso dos calções curtos um segredo que o mundo guardou só para elas.
azul-para-sempre,
que o céu é o lugar das coisas que não morrem.
e R. quis passar todos os dias da vida dele com os olhos postos no céu
raio do garoto!
R. aprendera na escola o que o seu coração descobrira, muito antes, escrito no lado de dentro da pele
nos olhos de M. ficavam todas as coisas sem nome.
subir vinte escadas sem nunca se cansar só para dizer
Vovó!
descer vinte escadas sem nunca deixar de ter medo e olhar sempre para trás
só para dizer
Milinha gosto muito de ti, malandra!
Ouviste?
M. ouve no escuro, M. sabe que R. há de ser sempre o rapaz que descobriu o céu que havia nos olhos dela.
ao rapaz disseram na escola,
o céu é azul, R.
R. sorriu, feliz
e disse como se visse, mais uma vez, os olhos de M., sua Avó,
pois é, e o azul é a cor da esperança.
(Obrigado, Vovó.)
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