Pensou na sobrevivência do nosso amor pelas coisas acima da impossibilidade delas connosco. Tinha saudades imensas vezes. Ela aparecia numa brecha do corpo aparentemente inteiro dos dias. E trazia de volta pequenos pormenores que a proximidade não deixava que se notassem.
Com a distância, como um gigante entre corpos, as pequenas memórias eram a sua forma de saber o que fora realmente seu no caminho. Não se demorava muito nelas - não queria que elas doessem. Pensava nelas como pedaços de verdade a que não se agarrava. Porque à verdade, se lhe juntamos orgulho, acabamos de mãos vazias.
Tinha desistido de saber se o que sentira existira no Mundo como nele. Não se importava de ter no peito uma dessas promessas silenciosas para contar a um corpo que já não vem. Não se importava que fosse nas costas do Mundo que as coisas existiam mais para si.
Sentava o corpo num banco e ficava boiando no silêncio leve e luminoso do ar da Primavera. E recordava-se dos pormenores minúsculos de que era feita a nossa grandeza. O amor não é um lugar grande. É feito dessas pequenas coisas que nos fazem todos de alguém. É feito desse céu de barro que somos nós.
Não deixaria de guardar em si aquilo que fora seu tão longe do Mundo. Talvez voltasse aos sítios onde fora feliz. Apesar das ausências, ainda havia o caminho. E ele continuava nele porque a felicidade também vive no amor solitário pelas coisas, depois do fim.
1 comentário:
são saudades que são coisas que, acima de serem nossas, são "nós". e não as vemos porque há um tempo que empurra o ver para a voz permanente dentro de nós, no pulso.
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