Rewind

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Na luz da manhã

Um dia alguém lhe disse que o pôr-do-sol fazia recordar-se dele. Ele achou graça e guardou para si aquelas palavras. Com o tempo e a distância houve coisas que não vieram mais com o raiar da manhã; coisas que a pele dos dias não mais guardou como o rosto fiel do sonho.
Os dias corriam e o tempo fazia-o passar cada vez menos pelos lugares que haviam sido outrora o chão do amanhã. Às vezes, doía-lhe a distância ou ficava por algum tempo perdido a lembrar onde tinha deixado esmorecer a força daquelas promessas. Mas, quando no véu do esquecimento ficava imerso o curso interrompido dessas imensas estórias, era o Mundo que trazia ancorado no seu acontecer pacífico a memória do que ele fora. No pôr-do-sol de um dia que nascia sem que a vida lhes acontecesse em conjunto, morava esse tempo distante.
E ele ficava a olhar o fogo que a água engolia e pensava que, por muito que a vida naufragasse desejos e os tivesse roubado do tempo que veio, nunca era tarde para que, do lugar onde deixamos a viver as nossas recordações sem nós, saisse a realidade de um novo dia que nasce.

1 comentário:

Joana Banana disse...

nós a morrermos sem ampararmos o que verdadeiramente nasce*