e recorda
não sei o que tinham as janelas a ver com as saudades
ou uma esquina, uma montra e as horas do fim da tarde
a ver contigo, connosco, mas o postal era para ti,
amor.
escrevi-te sempre como se apanhasse do chão bocados de ti
como se fosses sempre tu quem eu ia esperar em todos os bancos de jardim
para te sublinhar sempre nas páginas de cada um dos livros que levava,
amor.
lê-me em postais antigos, se puderes,
e recorda
pensa nas minhas palavras como em passos para casa
e espera-me do teu lado da cama
não mudes, por favor, o lugar onde fica a chave da porta,
amor
e espera.
lê-me em postais antigos, se puderes,
e recorda
passa pela minha pele como quem passa por uma esquina, uma montra
ao fim da tarde
e espera,
amor.
lê-me em postais antigos, se puderes,
passa pelo teu coração o meu sangue, uma vez mais,
amor
e abre todas as gavetas que encheste de mim
antes de deitares tudo fora repara,
- vou ficar contigo, dizia-te
e dava-te o futuro que ainda não tinha
- porque era teu.
lê-me em postais antigos, se puderes,
e espera-me do teu lado da cama,
amor
(desculpa)
vou encontrar a chave de casa
e ficar.
amanhã o carteiro não passa.
RM| XX-XII-MMXV