Há pessoas que são os esteios da nossa vida, verdadeiras traves mestras do edifício em que nos tornamos.
Crescer foi, afinal de contas, poder sempre vê-las, foi sempre receber delas uma espécie de certeza de ferro de que não nos faltariam nunca.
O Padrinho foi tudo isso - a pessoa que melhor conheceu o meu Pai, a pessoa que melhor lhe fez, a pessoa a quem, no fim de tudo, nós todos mais devemos.
Cá por casa, sempre ouvimos o seu nome como o de mais um membro da família. O Zé que, em menino, fugia para almoçar ou jantar com o meu Pai; que andou no colo da minha Avó e do meu Avô como mais um filho.
Diz-me a minha Avó,
Foi no meu colo que o Sr. Francisco deixou o Zé no dia em que, de repente, se sentiu mal,
Em jeito de brincadeira, disse sempre à minha Avó,
Vovó, os Costa Leite são Mesquitas honorários,
E, para o Pai, o Padrinho foi melhor do que qualquer irmão dele - sempre que o Pai estava consigo, eu sabia que ele estaria bem, que ouviria palavras de infinita bondade, que haveria sempre um abraço, perdão para todos os erros, genuína vontade de partilhar o mistério desta viagem que foi a vossa.
Hoje, o mundo ficou diferente - partiu um dos nossos. E isso, para mim, é como ter que me despedir da paisagem que sempre se viu do meu coração.
Toda a vida, eu e o meu irmão dissemos,
Quando formos grandes, queremos um melhor amigo como o do Papá,
Hoje, sei que não há muitos encontros desses; que recebemos a dádiva da sua amizade muito para lá do que seria imaginável, que sempre fomos protegidos por um coração enorme que nunca se esqueceu de nós.
Por tudo isso, a minha vénia. Por tudo isso, muito obrigado.
E a nossa Fernanda - uma mulher com um sentido de missão em tudo na vida, dona de um sorriso doce e meigo e parte, bem o sei, da felicidade que foi tudo o que vivemos.
Acho sempre que a saudade é a folha perene de que é feita a árvore da gratidão.
Vou ter saudades suas o resto da minha vida pelo tanto que tenho que lhe agradecer.
Lembro-me de dizer aos meus Avós,
O Zé até parece vosso filho,
O mesmo cabelo loiro, os olhos azuis e, sobretudo, muita coisa que nos uniu para lá do sangue.
A vida não é um caminho fácil.
Felizmente, pela minha parte, tenho o coração cheio de motivos para nunca deixar de agradecer.
Um abraço como aqueles que trocávamos quando, na rua, a vida nos punha no caminho um do outro.
A imagem eterna do sorriso bondoso que era o seu e um,
Até já!,
Só porque nunca se pode dizer adeus a parte de nós,
Só porque, no fim de tudo, quem se ama sempre se encontra.
Obrigado por tudo.
R.
RM|XXVII-I-MMXIX