Rewind

sábado, 9 de novembro de 2019

Gó,

Meu amor, 

Escrevo-te, hoje, como sempre, na língua que o meu coração fala. Escrevo-te, como reconhecerás, na língua que ele aprendeu também contigo. 

Falam-te, debaixo da minha pele, 32 anos inteiros da mais absoluta entrega, do mais puro dos encontros, de um caminho todo de verdade, de devoção e da luz de um amor que nasceu para ser eterno. 

Serás sempre o mais perto que estive, alguma vez, de Deus - pela tua mão, sob a atenção doce dos teus olhos, embalado pela doçura morna da tua voz, eu fui testemunha do milagre que nos contemplou quando nos escolheste, sempre que permaneceste, nos amparaste e salvaste. 

Por ti, eu quis sempre ser bom - pendurado nos teus ombros, agarrado ao teu pescoço ou aconchegado no teu colo, eu soube-te a minha casa. 

O melhor de mim, tantas vezes vem, até hoje, de ti - há uma vela que a tua presença sempre foi, um caminho que, apesar de tudo, sempre descobri - porque te tinha, porque estavas lá, porque tudo tinha volta - e as voltas, fossem quais fossem, eram um regresso a ti, ao teu cuidado extremo, ao teu sorriso como um abraço, à porta no trinco que foi o teu jeito de nos amares. 

Ainda há pouco, em Agosto, eu e o A., no IPO, 

A., que sentido é que isto faz? Achas que, ao menos Deus, nos poderá salvar?,
R.,vais ver, o bem manifesta-se sempre. Isto não pode acabar aqui.,

O teu Dedé, o meu Né, o meu irmão-fortaleza que, há quase dois anos, me ajuda a perceber que os filhos nunca se perdem dos pais, que só o amor nos pode, de facto, salvar e que, em silêncio, sem queixas, sem hesitar um segundo sequer, me tenta poupar de tudo quanto seja mais sofrimento, mais dor ou medo.

Bom aluno, o teu Dedé, o meu Né, Gózinha, meu amor. 

Nesse preciso momento, o telefone tocar - tinhas que ser tu, só podias ser tu - aí vinha a minha resposta, 

Menino, já soube do Papá. Como é que vocês estão?, 
Estamos para aqui, Gó. Olha, fazes mais uma coisa por nós?, 
Diga, menino, diga.,  
Pedes ao teu Deus que salve o nosso Pai? Dizes-lhe que ainda é cedo?, 
Oh menino, claro que sim, por vocês faço tudo. Sempre., 
Oh Gó, gosto tanto de ti, sabes? Nunca te esqueças disso. Estás sempre no meu coração.,
Os meninos também. Gosto muito de vocês, 

Naquele corredor estreito para um mar bravo de angústia eu, por momentos, achei que Alguém, por nós, tinha estado por detrás da impressionante coincidência em que as tuas palavras nos chegaram - como um bálsamo, como um agasalho que se veste, um antídoto contra a solidão incerta da dúvida e do desconhecido. 

Devo-te tanto - tu, os Avós e os Pais são, para mim e para o A., uma espécie de santíssima trindade em que a carne se coseu no espírito, tudo se pôde sempre enfrentar porque havia um lugar onde sempre nos esperavam. 

Parte de mim, vai contigo - eu sempre fui o dos dias até ontem - esse que, por entre os desafios à verdade da tua fé, sempre se sentiu inteiro por descobrir, em ti, tanto do que me faltava saber. 

Vou amar-te sempre, vou chamar-te sempre. 

Esta semana, voltaste a casa dos Avós. Pediste que te trouxessem, 

Quero ver a Senhora, 

E voltaste à nossa casa, ao teu quarto, à nossa sala - voltaste ao sítio onde foste feliz. 

Soube hoje que disseste,

Minha Senhora, é a última vez que subo estas escadas

Foi cedo, demasiado cedo. Os nossos vão sempre de véspera. 

Arranja forma de me dizeres onde estás e que estás bem. 

Quando chegar a minha hora, chama, 

Menino

Estaremos juntos. 
Eu terei voltado a casa. 

Obrigado por tudo, Gó. 

Todos os beijos, 

R. 

RM|| IX|XI|MMXIX

1 comentário:

Unknown disse...

belíssimo. obrigada