"The only way of catching a train I have ever discovered is to miss the train before." Chesterton (1874 -1936)
Rewind
quinta-feira, 23 de junho de 2011
quinta-feira, 16 de junho de 2011
terça-feira, 14 de junho de 2011
na corte do rei sócrates
Era uma vez um país muito lindo. Pequeno, mas lindo, com um mar enorme e azul. Nele vivia um rei não tão bonito, mas igualmente "pequenino" chamado Sócrates.
O rei Sócrates conquistara o trono na sequência de uma luta contra o seu rival pertencente ao lobby das calças vermelhas (gel no cabelo e afins derivados).
O rei Sócrates chegado ao poder quis logo transformar Portugal. Para começar: o prioritário -endireitar a educação. E, nesse domínio, muito se deve a este monarca de horizontes largos e educação esmerada. Sim, porque este engenheiro percebeu que sem formação não se consegue nada. Foi sua mãezinha quem lhe havia dito que a mulher de César não tem de sê-lo, tem somente que parecê-lo. Sábia mãe, a senhora, que dotou o filho de força para vencer a burocracia e a chatice do mérito e arranjar um canudo.
Não se deve nunca, bem o sabemos, negligenciar o alcance da visão de certas mães.
Ainda na educação, este rei resolveu avaliar os professores. E, como pessoinha que passou pouco tempo na escola, esqueceu-se que há uma forma correcta de fazer as coisas por cada mil outras erradas. Lá está, mães com filhos únicos ensinem, por gentileza, os vossos rebentinhos amados a ouvir os outros. Evitar-se-iam grandes catástrofes na história do mundo se as alminhas se ouvissem mais ou melhor.
O rei Sócrates não vê mal nenhum em mesas que voam, miúdos que gritam pelos "telemóbeis", ameaçam professores, faltam às aulas, mas passam o ano a caminho de ganharem o prémio de "arruaceiro-mor da gera". Claramente isto tudo são sinais do dinamismo das criançinhas - longe vão os tempos dos crucifixos ai-cruz-credo-valha-me-nosso-senhor-mais-a-autoridade-e-os-traumas-dos-meninos.
Educação é dar aos meninos treino nas articulações para calcorrearem os teclados desse maravilhoso instrumento do milagre contemporâneo da pedagogia em Portugal que é o Magalhães.
Sócrates, filho, viste longe. Nada como as criancinhas começarem cedo a perceber que há mais mundo - esse para onde os convidaste a fugir.
Sócrates quis inundar o país de modernidade e brilho - sim, porque o "pogresso" para o ser tem que ter uma cor gaiteira como certos vernizes muito "leindos" e cheirar a plástico.
Há que imaginar para o país novos comboios a uma velocidade super rápida e super maluca para não se dizer de nós que perdemos a carruagem do desenvolvimento.
Surgiu na cabecinha iluminada desse visionário líder uma sigla: TGV. E, como uma criança mimada e birrenta Sócrates, o rei, havia de se agarrar a ele como a um ursinho de peluche. Mas um dia o amigo das Finanças, como um texugo irritado, deu bronca. Esse senhor era do tempo das professoras primárias que, embora não soubessem o que era uma tanga e, que afinal, os países também as usavam, ensinavam que mentir era feio e que havia sempre uns bons tabefes ali à espreita.
Mas o rei Sócrates coloca na educação uma ministra escritora com ar seráfico de tia-casada-com-presidente-de-fundação que finge mandar uns bitaites sobre negociações e pedagogia.
Antes dela, uma ministra que se esquecera que os professores também podem avaliar os políticos. No Banco Central desse país à beira mar plantado, um governador com ar de anãozinho pretensioso que se despacha num contentor com coroa de louros que significa apenas isto: "és-um-idiota-que-sabe-demais-merda-que-temos-que-te-pagar-a-peso-de-ouro."
Há neste país uma esquerda de meninos zangados com o mundo e rebeldes sem causa, chamado BE. Há mais, meus senhores, do que queimar soutiens e fumar uns tarolos. E nada melhor que eleger como candidato a PM, um fulano cheio de património e uma deputada chamada Ana Drago que se esqueceu das acções da EDP que tinha. Moral da história: perco metade dos deputados e no BE toda a gente tem sorte de eu não partir a "louçã" toda e fazer-lhes o que o Estaline fez ao Trotsky. É bom viver para assistir a momentos destes. (E não era Natal dos Hospitais...)
Há mais, meus senhores, do que o patriotismo "olha que eu saquei da golden share", mas tenho um amigo na PT chamado Soares e até quero tornar a TVI num canal de serviço público. Há mais do que a cambada de acessores da terrinha do tio sam que sabem que as mentiras estão lá, mas só não querem que se note. Há mais do que morar num andar na rua castilho e usar fatos vindos de nova iorque, mas afectar essa superioridade moral do "eu sou bonzinho, votem em mim, que até vos dou o subsídio."
Há mais para o Parlamento do que ministros dopados que se entusiasmam numa mímica perfeitamente inofensiva que serve apenas, bem vistas as coisas, para emprestar um colorido diferente ao debate parlamentar e à democracia.
Há mais para a esquerda do que apregoar slogans contra a propriedade num país em que muitas famílias têm, finalmente, alguma coisa a perder. Há mais do que imigrantes ilegais e balõezinhos e megafones que varrem o país com promessas ocas e pessoas mais comprometidas consigo mesmas e com uma reeleição do que com uma qualquer ideia de país.
Há mais do que a batOTA dos elefantes brancos, Sócrates, el rey de Portugal-freeport-incluído.
E para a esquerda convém que não triunfe um líder com ar de cabrito assado com uma laranja na boca chamado Assis. Isso, sim, seria um repasto.
Portugal, reino abençoado por um sol imenso e uma gente branda (exceptuando, talvez, a padeira de Aljubarrota) tem agora uma paragem de comboio chamada - "Nenhures"- depois do ministro das obras públicas ter achado muito bem que se empatassem 40 milhões nuns acessos a um TGV suspenso. Uma paragem a meio caminho entre a pobreza e o suposto el dorado da velocidade, pois então.
Portugal tem um Estado obeso mórbido (Julinha não chegaste a tempo..), sem que as pessoas percebam que o lugar do Estado não é sentado nas AG's e Conselhos de Administração de empresas, nem a fazer malabarismos contabilísticos com PPP's. Culpem as agências de rating, culpem as falsas promessas em que acreditaram, mas não se esqueçam de que há mais para além de votar em políticos com imagem.
Onde esteve o rei Sócrates queria eu ter visto uma senhora com ar de professora primária a quem, uma vez, uma repórter com ar bovino perguntou se já tinha pensado mudar de imagem. As professoras primárias sabem o que são zeros à esquerda e reconhecem-nos logo que eles mostram os primeiros sinais de incapacidade e preguiça. Mas tudo vive no tempo do cruz-credo-há-autoridade-logo-tenho-um-trauma. E isso só podia dar asneira. E da grossa. 29% Portugal sofre, até, de síndrome de Estocolmo...
Rei Sócrates foi-se. Mas quem vai nú é o povo e não o rei. O rei foi aprender filosofia e, um dia, vai descobrir uma coisa chamada egoísmo ético da qual, infelizmente, só atingirá a primeira parte. A segunda é uma coisa velha e em desuso e sua Alteza viver sem ela já se tornou, afinal, um clássico.
quarta-feira, 8 de junho de 2011
mãe,
Há algo que nasce com os dias de Verão. Há uma luz inteira que desmaia na areia da praia. E o mar parece vestido de uma seda leve e de cores intensas.
Vive preso no Verão esse tempo de calor imenso e de noites povoadas do rumor das ondas junto à casa. Revejo-te com os livros presos entre as mãos e o fumo do cigarro que serpenteia. Um imenso jardim com uma linha de azul como uma baínha cravada no horizonte.
As roupas leves e o olhar perdido nas páginas - essas horas de leveza em que a beleza é uma chaga aberta no corpo aceso dos dias.
As roupas leves e o olhar perdido nas páginas - essas horas de leveza em que a beleza é uma chaga aberta no corpo aceso dos dias.
Recordo a Meia Praia - a baía como um larguíssimo ventre onde o vento corre assobiando. A cal e a calçada e os infinitos passos que demos - eu, abrigado na sombra fresca dessa família que me ensinaste a segurar pela mão no caminho da vida.
Há uma saudade dessas janelas e portas abertas para o escuro com as luzes da casa como pequenos faróis sob o véu opaco da noite.
Há o som das palavras trocadas e a memória feliz de me saber guardado no fundo dos teus olhos. Esse teu olhar imenso e melancólico a que as fotografias emprestam saudade.
Lembro a cidade como um corpo quieto e sereno sepultado na luz da curva. As rochas com arestas rasgadas e o som das gaivotas. As noites de peixe grelhado, sorrisos acesos, bebidas geladas e uma meninice que desabrochou nessa cumplicidade que nos talhou iguais.
Lembro sempre o avô e a luz que refulge no azul dos olhos da avó.
No Verão a luz cai direita no corpo das memórias e há um eco que acorda.
Lembro a pele dourada e o teu rosto iluminado perto da janela. As tuas horas de leitura e de escrita e as nossas de conversa defronte de uma planície azul quase em flor. Há flores de espuma semeadas nos poros da areia.
O Verão lembra-te a cal e a cidade com uma praia imensa como um abraço. A cal e a cidade lembrar-me-ão sempre de ti e de nós - daquilo que se guarda preso debaixo da pele e que se assemelha muito às memórias e cheiros que os teus livros guardam dos jardins e praias para onde os levaste. Para onde te levaste e nos levaste para resgatar esse amor à vida que vive nos cheiros imensos e fundos, nas caminhadas na areia, no fogo do sol e nas flores de um jardim de onde se vê o mar.
Lembro os ecos da noite - como um imenso estendal de negro e revoadas de vento; com vozes perdidas na distância e um rumor a gente feliz.
Recordo a casa e a luz dos teus olhos no jardim perto do mar. Há um fio de fumo que serpenteia no ar e o teu rosto acende-se porque as linhas que lês, as sentes na pele.
Levantas o teu rosto e sorris-me. E sei, mãe, que há um só lugar onde se chega e se quer ficar. Preso no fundo dos teus olhos, náufrago desse amor feito de dias grandes e noites que a alegria ilumina e acende junto ao mar.
domingo, 5 de junho de 2011
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