"The only way of catching a train I have ever discovered is to miss the train before." Chesterton (1874 -1936)
Rewind
domingo, 26 de fevereiro de 2012
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
Parabéns Avô,
Ontem farias anos. Seria um dia para te ligar cedo pela manhã e ir contigo ver o verde, aprender essa religião dos espaços de luz, da terra estendida como um colo de uma criança preguiçosa sob o sol branco do Inverno.
Iríamos com o A. e a Avó percorrer o corredor da tua vida que sempre foi essa terra imensa decorada com as lembranças que tinhas cravadas no génio e na atitude. Eras cativo da memória - fazias do teu caminho um cárcere iluminado pelas vigas da convicção, inundado dessa força que te fez do carácter uma muralha que protegia a vontade e o sonho.
Sorririas ao ver-nos no fundo das escadas - perguntarias como ia a escola, sempre atento aos nossos feitos para que eles nos ensinassem a humildade.
Dar-te-ia um abraço, sempre convicto de que há coisas que se ouvem sem voz, coisas que nascem da intensidade do que somos uns para os outros, mais do que daquilo que se pode alcançar com as palavras.
A mãe ligar-te-ia - sorririas ao ouvi-la - a essa mulher de quem gostaste como de uma filha. Pousarias a mão nos nossos ombros e irias connosco até ao fundo do verde - lá, onde a luz parece mergulhar fundo nas costas do mundo.
Caminharia orgulhoso de te ter como pilar - orgulhoso e grato por teres querido uma dimensão para a tua vida que nos adoçou a todos o caminho pela certeza que tivemos sempre de que o chão e a pedra da tua palavra eram o céu de todos os nossos voos.
É para ti que vão as minhas palavras, de ti que sobram as saudades numa vida que nunca nos chegaria. Celebro-te porque me fizeste capaz de um outro ser, de um outro querer que é sempre o princípio do sonho.
Nunca te tive por perdido ao tempo - as despedidas são sempre o aprender a vestir o amor de uma outra dimensão, de uma outra pele que nos toca por dentro, quando cruzam a nossa lembrança tempos que provam que fomos maiores.
Uma parte de mim vive aí - nesse lençol de luz que a saudade bordou mais fundo em mim - essa luz que te vinha da inteligência fina como gelo, desse calor em vagas mornas que nos chegava desse sorriso doce e seguro como os esteios das vides.
Partiste sem que te pudesse brindar com os passos do caminho que dei depois da meninice acabar - mesmo assim, sei que te chegarão sempre os meus pedidos, que ouvirás todas as vezes que te invoco, em silêncio, no balouçar da estrada.
Foste o maior homem que conheci - e foste-me uma medida que me abriu a paleta da vida para tons luz-infinito, para esse tamanho que se amplia sobre a soma dos dias para ser sempre do tamanho de uma vontade que não morre de te agradecer e te nomear nas coisas cimeiras da vida.
Soube sempre as saudades que tinhas dos teus pais - essas pessoas que mantiveste por perto de nós porque nos abriste a tua vida para habitarmos todos a mesma morada.
Soube sempre desse teu amor imenso pela Avó - ensinaste-me o fascínio por essas mulheres que semeiam ar no nosso peito, as mulheres que nos fascinam por sonharem connosco uma vida em conjunto, um caminho que se molda do barro que só as mãos unidas podem fazer viver.
Desenrolo o fio da memória vezes sem conta - a saudade foi uma tonalidade que tingiu as nossas lembranças desse tom pastel que é o outro nome da nostalgia.
Não há pó - no mesmo caminho, continuamos todos, comigo a saber exactamente o que me dirias sempre que preciso desse espaço em que pude sempre viver cosido num verde esperança que me coloria o olhar.
Não há nada senão uma vontade de alcançar o lugar mais alto - esse que o teu amor me provou ter existido e ficar aí suspenso, a boiar nesse oceano de satisfação e risadas felizes.
Ontem teria sido um dia para a mesa estar enfeitada com as porcelanas finas, as pratas a reluzir na mesa e os bordados dos linhos a colorir o ambiente.
Terias trocado comigo e com o A. mais um desses olhares que te denunciavam. Os teus olhos de um cristal aceso correriam ao nosso encontro, todos eles cheios desse embate doce da ternura.
Iria olhar-te nos olhos e agarrar essa luz que sempre chegou aos sítios de onde tinhas de nos resgatar e adormecer feliz porque me fizeste crente de um amor que não acaba.
Parabéns, Avô.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
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