As ruas são ainda tuas nas sombras vazias E as flores são ainda nossas com o perfume adiado Tudo era ainda teu e tudo és ainda tu Sempre que sorrias comigo ao teu lado
Agarra, ainda, a espuma dos beijos repetidos E das horas que faltam guarda nos olhos a luz Agarra, ainda, da brisa os sonhos perdidos Enquanto a noite é sombra que seduz
O teu nome é o sopro de todas as lembranças E do teu rosto as janelas são o espelho mais perfeito O teu corpo é luz ardendo sempre nas mudanças Que traz um amor, a cada dia, sempre feito
O vazio arde inteiro como um fogo denso
E as paredes são muros de pedra na distância
É em ti que a cada hora eu penso
E no meu peito o céu é chão de toda a ânsia
O teu corpo por dentro É de todos os prazeres o mais deslumbrado E tua boca é das verdades a mais pura no escuro do mundo Meus braços são fogo ardendo num abraço apertado E teus olhos são dos mares o maior e mais profundo
O vento levanta com beijos a roda do teu vestido E teus cabelos desenham na luz uma graça desmedida Tudo no ar é um eco de chuvas repetido Como na noite a luz é sombra de gente já sumida
A noite recomeça em teu nome o doce sono do tempo E as ruas são dunas de silêncio em que teu corpo se emudece Às tuas mãos o medo morre inteiro e cessa o desalento Como um lento florir que então comece
As rosas de teu nome nunca murcham E a sombra de meu corpo dorme sempre com a tua São dois corpos que da noite a vida puxam Queimando juntos, no lume, a carne nua
Chama noite, meu amor, ao dia que começa E adia mais um pouco, se puderes, a despedida Fica comigo sem que nada mais te impeça De querer comigo, em tudo, mais que a vida