18.01.
O coração sabe que é a hora.
O telefone chama.
Tu não demoras a atender.
"- Muitos parabéns, querida Milinha!!"
Curioso que se diga que o telefone chama, como se o telefone estendesse a nossa voz até à outra ponta da saudade.
A minha Avó faz hoje anos e isto chega.
E eu quase quero que este texto seja isso mesmo - uma janela cheia de luz toda aberta para dentro da pele; cada um dos instantes imensos em que, num feliz engano, cremos que vamos ser esquecidos e deixados para sempre junto uns dos outros.
Quem escreve, chama.
E eu gosto sempre de chamar o nome da minha Avó, de andar pela casa, percorrer os corredores e saber que as minhas mãos sempre encontram quem as agarre; que, afinal, sempre há uma razão para sorrir apenas porque o azul dos seus olhos pode muito bem ser um poema escrito só para nós.
A minha avó foi um poema escrito para mim - as nossas vozes rimam, os nossos olhos abraçam-se e as palavras são presentes que abrimos juntos na intimidade do que somos.
A minha Avó é um poema que sei de cor - todo o amor é uma espécie de vício, todo o amor é uma espécie de sequestro feliz.
E a quem se agradece que o poema possa ter mais uma estrofe? A quem agradecer a infinita alegria de poder dizer mais uma vez:
"- Vovó gosto muito de ti. Sabes disso, não sabes?"
Eu agradeço uma vez e outra, mil vezes, todas as vezes em que o meu amor encontra do outro lado quem diga:
"- Eu sei, meu amor. Eu também."
O coração sabe que é a hora.
O coração escreve só para dizer que já tem saudades daquilo que sabe que podemos vir a ser, Avó.
Vovó, os maiores amores são aqueles em que o tempo se desalinha só para que seja possível o encontro.
Para ir ter contigo, eu chego sempre adiantado.
E rio-me ao pensar que, em todas as vezes que cheguei antes da hora, tu já lá estavas:
"- Estava à tua espera, Ricardinho!"
O coração sabe que é a hora.
E dentro dos nossos corações, felizmente, a hora será sempre a mesma.
Parabéns, Milinha!