e encontrar-me cá em baixo no princípio
íamos os dois a tempo de um cigarro no jardim
íamos os dois a tempo de dizer um ao outro das saudades
que nos ficaram como frutos suspensos no lado de dentro dos braços
se pudesses, Avô, levar.me, de novo, no carro para a Aparecida
eu a ter que me sentar no banco de trás por ser pequeno
e tu a tempo de dizer,
Já não falta muito! E depois vens comigo aqui ao lado!
íamos os dois a tempo de regressar ao teu passado
e de ficar sentados na soleira da porta esquecidos de partir
se pudesses, Avô, ver como o A. se parece contigo
e como eu penso que nasceste nele de novo só para eu não ter que andar sozinho
íamos os dois a tempo de lhe dizer,
Gostamos muito de ti
e de ficar felizes por as palavras se poderem levar nos bolsos para toda a vida
se pudesses, Avô, ver como a Avó foi a escolha certa
e como continua mais bonita por causa do que lhe deixaste agarrado à pele
íamos os dois a tempo de lhe dizer,
Obrigado
e de ver a maré cheia dos olhos de quem se sabe amado para sempre
se puderes, Avô, ver como tudo ainda te espera
pede para voltares nem que seja para um cigarro no jardim
só para eu ir a tempo de te dizer,
Quando for grande quero ser como tu
(mais uma vez)
e, mesmo não fumando,
fumar contigo no jardim da nossa casa
as saudades que me ardem no silêncio que ficou.
RM