Rewind

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Avó,

R., meu amor, é bonito seres um homem com um coração de menino, sabes?
 
As coisas que só a minha Avó me diz.
 
A Avó dos olhos doces, a Avó que fez com que o regresso nunca fosse longe demais.
 
Obrigado, Milinha,
 
Sabes, Avó, vou ter contigo para salvar o meu coração,
 
Vou ter contigo para ser possível sonhar por cima da ruína do medo
 
e sorrir por ver o mar dos teus olhos encher-se todo de luz outra vez.
 
 
R, meu menino, temos que conversar!
 
Conta-me coisas da tua vida!
 
As coisas que eu te digo, Avó,
 
Como se por te chamar todos os dias
 
Tu possas lembrar-te da paz que te promete o teu jardim
 
e da nossa casa em que os relógios pararam há um mês à tua espera
 
 
Amo-te, Milinha,
 
E as flores que te levo são as minhas palavras,
 
os meus dedos a rimarem com os teus por dentro do tempo
 
a salvo do tempo,
 
para lá do tempo,
 
o tempo todo.
 
 
As coisas que só a minha Avó me diz
 
A falta que só ela me faz
 
A saudade que só tenho para ela
 
 
E a casa com o jardim muito quieto
 
E os relógios parados como se esperassem
 
 
Porque o amor é isto -
 
uma casa onde as flores esperam
e os relógios param
por quem sabem 
ter sempre que chegar
 
só para que a casa seja casa
e se possa viver tudo devagar.
 
 
RM| XXVII-II-MMXVI 

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