Rewind

domingo, 7 de maio de 2017

Mãe,

De todas as palavras do mundo, uma que é só para ti,

Mamã,

e que sorte a minha teres sido tu quem veio ter comigo neste encontro da vida,
que milagre ter sido através das paredes dos teus braços que comecei a espreitar o mundo
e que infinita alegria a minha por teres sabido sempre esperar-me sem cansaço

De todas as palavras do mundo, uma que é só para ti,

Obrigado,

e que sorte a minha teres sabido ler os gatafunhos confusos com que, às vezes, só quis dizer que te amo,
que milagre saberes caminhar no meu silêncio como quem vê no escuro
e que infinita gratidão a minha por saber a tua mão atada na minha dentro dos bolsos de todos os meus casacos

De todas as palavras do mundo, uma que é só para ti,

Desculpa,

e que sorte a minha teres sabido sempre perdoar-me com os braços abertos,
que milagre teres-me dado, de uma vez, a chave da porta do teu coração e ela ser para sempre inútil
e que infinita luz a que me chega porque a soube desde sempre encostada só no trinco para mim

De todas as palavras do mundo, uma que é só para ti,

Saudades,

e que sorte a minha de só poder ter vontade de um futuro que te tenha,
que milagre que em todas as minhas esperas a tua voz se ouvisse sempre
e que infinita esperança me nasce de te imaginar sorrindo por detrás do vidro que dá para a rua

De todas as palavras do mundo, uma que só tu me ensinaste,

Amor,

e que sorte a minha o meu coração poder ser um baú onde:
os filhos caminham na praia com as mães,
onde as mães fumam um cigarro enquanto os filhos cansam nelas, como o mar nas rochas, todas as dores, a estupidez e a solidão absurda do mundo
e que infinita dádiva todos os dicionários serem incompletos na definição do que nos une

Querida Mãe,

que as minhas palavras mais sinceras sejam sempre tuas,
e que a verdade, mesmo que doa, nos leve aos dois no mesmo caminho

no fim de tudo, terei aprendido o que é o Amor,
e sabido poder ele ser um sorriso teu só para mim por detrás de um vidro que dá para a rua

entrarei sempre, meu Amor
a porta no trinco como me habituaste
e um cigarro que espero que fumes comigo como um abrigo dentro do absurdo imenso do mundo.

Amo-te.

RM| VII-V-MMXVII