porque contigo os meus olhos se podem fechar -
o amor pode ser um gole fundo de silêncio
e as palavras todas deixadas, à entrada, no bengaleiro antigo
serem agasalhos que a verdade que nos une não impõe
sentados - eu de t-shirt cinza, descalço, jeans velhos e barba por fazer
tu, de cigarro, a música que toca, só o mar que nos ouve
e não haver parapeito mais honesto que o do teu olhar
e não haver vista mais bonita que a verdade que tu me mostras
porque só contigo, Mãe, o meu amor não foi nunca uma escolha -
amo-te porque a gravidade me cola ao trilho de terra e luz que tu és
e amo-te mais ainda por me saber sempre condenado a voltar à praia do teu colo
como, ao fundo, as ondas que se desfazem num afecto de danças antigas e repetidas
e tu, Mãe, serves-me todas as vezes no corpo, na pele, nas dúvidas
sempre te encontro a medida exacta do que me falta,
um tecto mais alto para os sonhos,
e adivinho, porque tu queres, onde escondes a chave para que, apesar de tudo, eu volte
[Mãe, amo-te]
obrigado pela liberdade com que o teu coração prendeu, para sempre, o meu.
acende um cigarro,
deixa que o mar nos ouça
no bengaleiro ficam as palavras
afinal, nós vemos no escuro um do outro
e isso basta.
PARABÉNS.
RM| X-XI-MMXVII
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