às vezes, calo-me como se não soubesse falar.
os olhos viram-se para dentro e as portas estalam como se começasse uma espera.
trago caídas nos poros cada uma das pétalas dos teus beijos e os meus dedos são as rochas onde os teus desejos encalharam para ficar.
às vezes, esforço-me para te escrever com o corpo lembranças doces e felizes. encosto-me a beber na tua boca a sombra que nos descansa deste lume e, logo depois, retomo a escrita como se apenas pelos meus dedos se pudesse acalmar o motim de luz que trazes dentro.
lembra-te, se puderes, dos meus olhos enfiando-te no ventre cada uma estrelas que há no céu, lembra-te, se quiseres, que era Agosto e o céu trazia escritas coisas que quis deixar-te guardadas junto aos lábios.
às vezes, calo-me como se a espera me relembrasse sempre de ti a parte mais bonita - a maresia do teu corpo deitado sobre o meu, os lençóis queimados no chão como se as cordas do vento nos ateassem na pele desejos maiores e mais perfeitos.
calar-me é como aprender a chamar-te outra vez - aprender, de novo, como a tua pele gosta que lhe digam que já é dia, aprender a dar-te a mão enquanto a minha boca te empurra devagar sobre o abismo de um beijo. às vezes, passo a língua no sonho derretido do passado e decido ficar.
calar-me é poder andar acordado dentro de um sonho - os teus braços como heras trepando-me as pernas, a tua boca como uma falésia que morde o mar, o provoca e o conquista.
às vezes, lembro-me das nossas conversas escondidos da vergonha debaixo dos lençóis e sorrio.
talvez o silêncio seja uma árvore cheia de promessas que quero colher dentro das tuas mãos.
talvez o silêncio seja o Outono de onde caem as folhas mais bonitas do que fomos.
talvez seja mesmo isto, meu amor.
o silêncio sempre a varanda de onde te vejo chegar.
sobe, fica comigo.
[que esta sempre foi a forma mais sincera que encontrei de te dizer o nome].
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