no teu corpo ouve-se a chuva.
e os meus olhos são uma vidraça a estalar, os meus ossos são madeira que geme quando tu me trepas como se tivesses, de súbito, que colher uma promessa maior do que a vida.
no teu corpo ouve-se a chuva.
e há, do lado de dentro da tua pele, o crepitar de encontros velhos, músicas espantando sombras, janelas esquecidas viradas para o longe e um cheiro húmido de nudez doce.
espreito-te com a língua como se o amor fosse uma arte de cegos - os dedos como gumes que rasgam o vento que trazes no ventre, as pernas empurrando-nos aos dois para um abismo todo de luz e de infinito.
no teu corpo ouve-se a chuva.
e os telhados desabam pesados de sonho - o céu oscila e as bátegas do teu peito arrastam uma maré de punhais que me desfaz, que me divide como se multiplicasse o espantoso acaso do nosso encontro.
e a chuva cai - na minha boca, na praça acesa do meu peito que tu invades como uma maré que levasse o mar ao cimento frio de cada um dos meus desertos.
depois da chuva, os dias acordam grávidos dessa luz leve que antecede todas as promessas - todos trazemos lágrimas que não podemos chorar sozinhos, todos desejamos acordar, um dia, acompanhados dentro de nós mesmos, quase como se a chave do que somos andasse perdida no bolso de alguém que, sem sabermos, nos espera.
[e por quem esperamos]
no teu corpo ouve-se a chuva.
e eu penduro-me no parapeito dos teus silêncios a inventar que eles dizem o meu nome, fico a contar as gotas que faltam para dizeres
anda cá,
toda a minha roupa desatada por dentro
[os teus dedos já cá estavam]
no teu corpo ouve-se a chuva que abriu a clareira dos meus braços, que foi o muro onde te pendurei o vestido e tive pressa, a chuva que foi a cortina em que todos os beijos foram deliciosos naufrágios.
no teu corpo ouve-se a chuva, meu amor.
e eu conto cada uma das gotas que demoram até dizeres
fica
espreito-te com a língua como se o amor fosse uma arte de cegos - os dedos como gumes que rasgam o vento que trazes no ventre, as pernas empurrando-nos aos dois para um abismo todo de luz e de infinito.
no teu corpo ouve-se a chuva.
e os telhados desabam pesados de sonho - o céu oscila e as bátegas do teu peito arrastam uma maré de punhais que me desfaz, que me divide como se multiplicasse o espantoso acaso do nosso encontro.
e a chuva cai - na minha boca, na praça acesa do meu peito que tu invades como uma maré que levasse o mar ao cimento frio de cada um dos meus desertos.
depois da chuva, os dias acordam grávidos dessa luz leve que antecede todas as promessas - todos trazemos lágrimas que não podemos chorar sozinhos, todos desejamos acordar, um dia, acompanhados dentro de nós mesmos, quase como se a chave do que somos andasse perdida no bolso de alguém que, sem sabermos, nos espera.
[e por quem esperamos]
no teu corpo ouve-se a chuva.
e eu penduro-me no parapeito dos teus silêncios a inventar que eles dizem o meu nome, fico a contar as gotas que faltam para dizeres
anda cá,
toda a minha roupa desatada por dentro
[os teus dedos já cá estavam]
no teu corpo ouve-se a chuva que abriu a clareira dos meus braços, que foi o muro onde te pendurei o vestido e tive pressa, a chuva que foi a cortina em que todos os beijos foram deliciosos naufrágios.
no teu corpo ouve-se a chuva, meu amor.
e eu conto cada uma das gotas que demoram até dizeres
fica
as gotas que faltam para que o vidro se parta e frio entre devagar
os teus braços, subitamente, agasalhados comigo.
tu e eu e um inverno que não devia acabar nunca.
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