Há dias em que acordamos sem nós. Dias em que a face que nos olha e por onde nos vemos é a mesma, mas em que parecemos já não conseguir mexer os músculos, para a avivar. Dias em que o corpo que nos acolhe é o mesmo, mas em que a nossa vontade já não faz alinhar os pés no caminho. Há dias em que o caminho parece o mesmo de sempre - com o primeiro nudismo das árvores a cobrir a pedra dos passeios, o primeiro vento que, agora que voltou, parece querer soprar com mais força; as mesmas ruas enlaçadas em beijos de esquina; os primeiros arrepios com a noite, mais rápida e mais escura. O Mundo é o mesmo, apenas com mais dias.
Contudo, caminhamos ao lado disso tudo. Como se nos tivessem deixado acordados depois do que fomos. E isso, o que já fomos, as coisas por que já corremos tantas vezes e, tantas vezes, nos fizeram correr por outras esquinas e alinhar os passos por outros caminhos, parece perdido ou já muito longe de nós.
Curioso como a vida, com a perda, parece um cenário que nos teima em lembrar o que fomos. Em cada esquina, de cada vez que o vento chega soprando e as àrvores se revelam para se deixarem envolver por ele. De cada vez que a vida se cumpre mais uma vez, lembra-nos do que fomos. E, embora passemos no mesmo caminho, o destino pode ser já um virar antes ou um seguir mais um bocadinho, para virar depois.
Ali ficarão os ecos e as palavras gravados contra as paredes. Ali, em todas aquelas pedras da calçada, ficarão as imagens e a memórias de presenças e o cheiro a estórias.
Podes fugir, mas não te podes esconder. E o que foste e o que foi de ti, em cada grão da vida, guarda-o a memória que habita as ruas e todos os lugares de sonhos mais acesos e passos sedentos do encontro.
Dói quando sempre que aí voltas, sentes que caminhas sozinho. E que os sons e o calor daquela presença talvez já não te acolham, naqueles primeiros golpes de ousadia do vento. E o Mundo parece cumprir-se sem ti. Como se o vento, de repente, viesse cedo demais para assolar-te o caminho; como se agora não conseguisses descobrir em que esquina te deixaste encostar e te perdeste; como se as folhas do chão, como vestes despidas, te lembrassem do adiar da entrega.
Seria bom sermos o Mundo. Com a certeza de que das folhas que caem, nascerão outras, sempre mais verdes, sempre sem medo de cair, sempre como da primeira vez. É isso, o Mundo cumpre-se todos e cada dia como o primeiro - com a mesma entrega a um destino que não se escolheu, mas que é o dele.
Talvez a nós a nudez nos incomode quando já não temos quem nos envolva; a nós talvez nos doa o caminho quando os passos são só os nossos e as esquinas sejam encruzilhadas onde nada do que queremos e em que cremos esbarra já em nós.
Páro, respiro e ouço o silêncio da noite. E lembro-me que o caminho e as esquinas e o vento que sempre volta, não podem roubar-me o que já fui. E que agora, que talvez já não tenha o mesmo, eles ali se mantêm, à espera.
Para que com eles nasça em mim, todos os dias, a esperança sempre mais verde, sempre como no primeiro dia, sempre sem medo de cair. Sempre esperando que a nudez mais perfeita da minha alma, encontre o vento que a envolva e leve as folhas com ele, a baloiçar, pelas esquinas desse Mundo. Como no primeiro dia.
Contudo, caminhamos ao lado disso tudo. Como se nos tivessem deixado acordados depois do que fomos. E isso, o que já fomos, as coisas por que já corremos tantas vezes e, tantas vezes, nos fizeram correr por outras esquinas e alinhar os passos por outros caminhos, parece perdido ou já muito longe de nós.
Curioso como a vida, com a perda, parece um cenário que nos teima em lembrar o que fomos. Em cada esquina, de cada vez que o vento chega soprando e as àrvores se revelam para se deixarem envolver por ele. De cada vez que a vida se cumpre mais uma vez, lembra-nos do que fomos. E, embora passemos no mesmo caminho, o destino pode ser já um virar antes ou um seguir mais um bocadinho, para virar depois.
Ali ficarão os ecos e as palavras gravados contra as paredes. Ali, em todas aquelas pedras da calçada, ficarão as imagens e a memórias de presenças e o cheiro a estórias.
Podes fugir, mas não te podes esconder. E o que foste e o que foi de ti, em cada grão da vida, guarda-o a memória que habita as ruas e todos os lugares de sonhos mais acesos e passos sedentos do encontro.
Dói quando sempre que aí voltas, sentes que caminhas sozinho. E que os sons e o calor daquela presença talvez já não te acolham, naqueles primeiros golpes de ousadia do vento. E o Mundo parece cumprir-se sem ti. Como se o vento, de repente, viesse cedo demais para assolar-te o caminho; como se agora não conseguisses descobrir em que esquina te deixaste encostar e te perdeste; como se as folhas do chão, como vestes despidas, te lembrassem do adiar da entrega.
Seria bom sermos o Mundo. Com a certeza de que das folhas que caem, nascerão outras, sempre mais verdes, sempre sem medo de cair, sempre como da primeira vez. É isso, o Mundo cumpre-se todos e cada dia como o primeiro - com a mesma entrega a um destino que não se escolheu, mas que é o dele.
Talvez a nós a nudez nos incomode quando já não temos quem nos envolva; a nós talvez nos doa o caminho quando os passos são só os nossos e as esquinas sejam encruzilhadas onde nada do que queremos e em que cremos esbarra já em nós.
Páro, respiro e ouço o silêncio da noite. E lembro-me que o caminho e as esquinas e o vento que sempre volta, não podem roubar-me o que já fui. E que agora, que talvez já não tenha o mesmo, eles ali se mantêm, à espera.
Para que com eles nasça em mim, todos os dias, a esperança sempre mais verde, sempre como no primeiro dia, sempre sem medo de cair. Sempre esperando que a nudez mais perfeita da minha alma, encontre o vento que a envolva e leve as folhas com ele, a baloiçar, pelas esquinas desse Mundo. Como no primeiro dia.
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