Há um tempo que passa lá fora, mas não passa por nós. E tudo permanece como que banhado por uma luz que boia no corpo das coisas. Lembro os dias que se espreguiçam longos e que acabam dormindo no leito do mar. Os livros, as palavras e a areia da cor das pérolas que sempre me lembram de ti.
Moro nesse tempo que corre como uma visita demorada a um tempo feliz. Volto a ti nos pedaços de luz que fazes sempre nascer da sombra; volto a ti na serenidade que me mora na memória da pele.
Há todo um espaço de luz e silêncio que me mora - como um espaço onde a plenitude anula a necessidade do corpo imperfeito das palavras. Contemplo o rosto desenhado pela memória e pouco mais ouço do que uns sôcos intensos dentro do peito - um silêncio que se sente pela forma como tudo se ilumina como se a luz invadisse uma sala num galope rápido e voraz.
Moramos nessa cumplicidade em que me cunhaste o espírito e me moldaste a escarpa do caminho. E pouco se diz das pessoas que partilham a morada connosco, senão que são os dois lados do mesmo caminho, as duas faces de um mesmo desejo.
As palavras fogem de mim quando te nomeio e ecoam todas as provas que são o cimento disso que mais ninguém vê senão tu - para ti as manhãs serão sempre frescas tocadas por uma brisa ousada e terna e irei sempre visitar-te debaixo de um céu de onde se veja o mar.
A admiração como um corpo absoluto e infinito abafa os esboços que se podem alcançar com as palavras. É curioso que nada consiga dizer que o perto não chega - somos mais, somos isso mesmo de maior do que nós.
Obrigado, mãe. Por tudo o que mora nesse voo amplo que é o amor. E por seres tu o céu de todos eles.
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