O azul dos teus olhos é um mar doce no abraço E tua voz é frescura de cetim voando ao vento Levo-te comigo em cada passo E guardo de ti, com luz, cada momento
Teu sorriso é janela rasgada E teus olhos são do mar a luz maior Teu ventre é deliciosa escada E teu peito uma noite de fulgor
Nossas mãos são versos trocados E teus gritos prosa inquieta Teus desejos são segredos guardados E teu coração porta aberta
Teus cabelos são ondas beijando-me o pescoço E tuas carícias são ferro ardendo no negrume Meu corpo traz a pressa como um moço Que no sangue tem da fome todo o lume
Teu corpo é jardim de maresia e de infinito E teu peito é de todos os abrigos o maior Teu ventre é praia doce e sem rumor Onde vive e dura sempre o interdito
De todas as palavras a primeira - para ti E de todos os caminhos para ti - o norte Por ti saberei sempre que vivi Com um sorriso de luz inteiro sobre a morte
Nos teus olhos a noite não termina E dançam em meus lábios os beijos que te não dei Nos teus olhos é a luz quem te domina E em mim a fome com que te amei
Não sei que faria sem ela E sem seu ventre de vento todo ardendo Não sei quem viria à janela Para ficar na minha boca sempre lendo Que um céu de infinito se revela
De olhos cerrados Lembro do teu corpo a forma inteira E em teus braços espero ainda a noite prometida De olhos cerrados Lembro da tua boca a promessa derradeira E em meu peito adio sempre a despedida
Diz de todas as palavras a primeira A que traz dos dias a luz e a amplidão Diz de todas as palavras a inteira A que desfaz com fome a solidão Diz de todas as palavras a derradeira E deixa em meu peito tua mão
A rima do teu nome traz no sangue a saliva De todos os sonhos que tua boca fez nascer A rima do teu nome traz minha vontade tão cativa De junto ao teu corpo toda a vida adormecer
Deixas rosas em meu peito como num jardim E cada pétala é verso de carne com teu nome Há em meu peito um vazio todo fome Se acaso não estás sorrindo junto a mim
Na areia do teu corpo escrever a noite
E deixar no firmamento as palavras do encontro
Na espuma dos teus beijos receber o dia
E retomar, inteira, a poesia
De que noite vens, meu amor Que em teus olhos as avenidas são corredores de solidão De que noite vens, meu amor Que em teu corpo o sangue corre em contramão De que noite vens, meu amor Que tua pele é poente escuro de saudade De que noite vens, meu amor Para querer comigo no dia a liberdade