R., meu amor, é bonito seres um homem com um coração de menino, sabes?
As coisas que só a minha Avó me diz.
A Avó dos olhos doces, a Avó que fez com que o regresso nunca fosse longe demais.
Obrigado, Milinha,
Sabes, Avó, vou ter contigo para salvar o meu coração,
Vou ter contigo para ser possível sonhar por cima da ruína do medo
e sorrir por ver o mar dos teus olhos encher-se todo de luz outra vez.
R, meu menino, temos que conversar!
Conta-me coisas da tua vida!
As coisas que eu te digo, Avó,
Como se por te chamar todos os dias
Tu possas lembrar-te da paz que te promete o teu jardim
e da nossa casa em que os relógios pararam há um mês à tua espera
Amo-te, Milinha,
E as flores que te levo são as minhas palavras,
os meus dedos a rimarem com os teus por dentro do tempo
a salvo do tempo,
para lá do tempo,
o tempo todo.
As coisas que só a minha Avó me diz
A falta que só ela me faz
A saudade que só tenho para ela
E a casa com o jardim muito quieto
E os relógios parados como se esperassem
Porque o amor é isto -
uma casa onde as flores esperam
e os relógios param
por quem sabem
ter sempre que chegar
só para que a casa seja casa
e se possa viver tudo devagar.
RM| XXVII-II-MMXVI