Rewind

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Para a minha mãe,

um postal de improviso que diga apenas,
 
tenho saudades tuas, Mãe,
 
fumar um cigarro e esperar que o postal te leve a minha voz
 
e me devolva os teus braços
 
sempre.
 
 
engraçado isto de a minha saudade poder ser, para sempre, uma carta devolvida ao remetente
 
o carteiro a dizer,
 
oh senhor, caraças, as duas moradas são sempre iguais!
 
e eu sem saber muito bem se sou seu que sou a tua casa
 
ou se tu é que és a minha
 
[mas não interessa.]
 
 
talvez, então, te deixe o postal enquanto dormes
 
e te ouça no escuro quando, tarde, a noite nos abraçar aos dois
 
 
depois, ao sair do quarto,
 
o coração cheio e o postal quase vazio.
 
 
mas, Mãe, lê sobretudo o que não diz o postal
 
e que é tanto,
 
imagina que o postal é uma porta que deixo aberta
 
e entra
 
[sempre.]
 
 
sabes, acredito que o carteiro te levará, outro dia, uma outra carta,
 
por pouco que eu diga e que as moradas se repitam sempre
 
todos os carteiros tiveram mãe
 
e sabem que, muitas vezes, as cartas sem palavras
 
levavam os envelopes mais cheios de amor.
  
 
RM| XXVI-VIII-MMXVI

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