um postal de improviso que diga apenas,
tenho saudades tuas, Mãe,
fumar um cigarro e esperar que o postal te leve a minha voz
e me devolva os teus braços
sempre.
engraçado isto de a minha saudade poder ser, para sempre, uma carta devolvida ao remetente
o carteiro a dizer,
oh senhor, caraças, as duas moradas são sempre iguais!
e eu sem saber muito bem se sou seu que sou a tua casa
ou se tu é que és a minha
[mas não interessa.]
talvez, então, te deixe o postal enquanto dormes
e te ouça no escuro quando, tarde, a noite nos abraçar aos dois
depois, ao sair do quarto,
o coração cheio e o postal quase vazio.
mas, Mãe, lê sobretudo o que não diz o postal
e que é tanto,
imagina que o postal é uma porta que deixo aberta
e entra
[sempre.]
sabes, acredito que o carteiro te levará, outro dia, uma outra carta,
por pouco que eu diga e que as moradas se repitam sempre
todos os carteiros tiveram mãe
e sabem que, muitas vezes, as cartas sem palavras
levavam os envelopes mais cheios de amor.
RM| XXVI-VIII-MMXVI
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