Porque a Mãe faz anos,
Ouço-te chegar, sempre.
Nos tempos da creche, não falhavas - acontecesse o que acontecesse, essa era a tua hora - a hora de nos ires buscar, de nos ouvires as aventuras daquele dia, de nos trazeres, finalmente, para casa.
Toda a minha vida foste isto - sempre que foi preciso que me fosses buscar, que me desses a mão, que houvesse um regresso, estiveste lá.
Na verdade, os meus ossos são as escadas que te ouço subir quando o meu coração se aperta, se interroga, se perde ou duvida - o meu sangue é a tua morada e a minha consciência tem o som meigo da tua voz.
Por isso, hoje, como sempre, digo que te ouço chegar.
És tu quem conhece, verdadeiramente, a casa que sou - percorres-me as divisões todas, lembras-te de que há que vedar as torneiras onde a tristeza teime em pingar, que há que abrir as janelas e deixar entrar a luz.
Mas, Mãe, a luz é toda do teu nome,
Mamã, o que faço?,
Não te preocupes, filho, eu trouxe a chave,
E a chave que tu trazes, essa de que tu nunca te esqueces, é a chave do meu coração - é a chave que abre a porta da esperança, que inventa outros sonhos, se preciso, ou um outro chão e céu, só para que eu possa continuar.
O som da tua chegada é o som mais feliz da minha vida - sempre que te lembro, que te vejo ou te chamo minha, estou em casa.
Devo-te, mais do que a vida, esta vida - uma vida em que houve, até hoje, uma casa, em que me soubeste, sempre, perdoar, em que me arranjaste por dentro como ninguém.
Tu tens a chave suplente do meu coração - caso eu perca a que é minha, só tu me poderás salvar.
Vou amar-te sempre.
E, melhor do que isso, sei que vai ser impossível não te amar.
Fazes anos, meu amor.
O meu coração está em festa.
Sobe-me as escadas dos ossos e demora-te num abraço.
Para ti, para sempre, a porta fica aberta.
Um beijo,
R.
RM| X|XI|MMXVIII