Percebo porque se calam as vozes. Às vezes, o que jaz por debaixo do som do que aparentemente é a vida a que damos voz, é tudo o que realmente somos. Calamos a voz e a corrida de tentarmos captar e agarrar o mundo e a sua força e a sua corrida. E ali ficamos em silêncio.
Sim, podemos não saber as palavras do que nos habita. Mas não significa que não exista, que não esteja lá, que não o sintamos. E ama-se também sempre pelo silêncio. Depois de gastas todas as palavras, em todas as infinitas combinações, quer-se sempre mais pelo que precisamente se esconde no manto do silêncio. E significa que o que sentimos é mesmo maior do que nós. Algo que fomos construindo sem lhe dar um nome até que se tornou naquele hino silencioso.
O amor está para além das palavras. E nós sempre aquém de o dizer.
Não fales. Vem chorar comigo as palavras nas lágrimas. Não fales. Vem agarrar-te com força ao meu abraço. Não fales. Vem ouvir o meu amor em silêncio. Escuta-o. Ei-lo na minha mão que não te larga. Ei-lo na força bruta com que o sinto aqui no peito. Ei-lo no ar que te faço nascer no peito para que vivas mais. Ei-lo no brilho atento dos meus olhos. Olha o meu amor na minha pele que se arrepia ao ouvir o teu nome ou ao sentir a saudade tua que anda por aqui. A saudade que é dela também.
Vem para perto de mim. Osculta o grito mudo e o baque que me inflama. Percebo-te no silêncio.
Leio a tua mão que treme. Adivinho as nuvens do teu pensamento e a sombra do teu olhar. Sinto o tremor das tuas pernas cansadas. Encosta-te ao meu amor por ti.
Ouve o bater do meu coração. Ele embala-te e só ele saberá o que te dizer. Em silêncio e para lá dele.
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