Alguém chegar e dizer: "Está tudo bem." Chegar e trazer na voz essas palavras que podemos beber e onde podemos descansar. Sentir que tudo finalmente se acalma - que chegamos à praia onde a corrente parou para nos deixar. Não ter mais que procurar na dobra dos dias o fim das coisas que não querias e vieram.
Alguém chegar e dizer: "Olha, está tudo bem." E quem chega trazer esse desejo grande e luminoso de querer ficar a ouvir o que o silêncio que engolimos e nos engole traz escondido. Ou ficar e não se dizer nada - esse alguém fica e está lá. E segura-te o corpo e o que nele se agarra.
Palavras que rasgam noites mais fundas - segurares-te nos desejos que te enviam. Acreditares que isso se mantém como uma luz contra o tecto escuro de uma noite agora mais funda.
E alguém que chega e diz: "Olha, está tudo bem." E ficares quieto nessa espécie de promessa silenciosa; nesse escudo que chega quando tudo falta.
E poderes respirar porque nada se te impõe. Alguém chegar e dizer: "Está tudo bem, eu estou aqui."
E tudo ficar melhor.