Sentia falta daquelas horas amplas e fundas onde aconchegava o corpo. Daquele fechar os olhos e o mundo não ser nada; não importar mais. Ter o corpo deitado no absoluto. Poder parar de buscar. Ousar dizer que encontramos o que sempre desejamos. Sentir isso e o resto não ser nada.
A janela aberta numa noite quente de Verão. O teu corpo derretendo na minha pele. O teu ar varrendo a superfície do meu corpo. E o mundo não ser nada. O doer-nos o corpo e o pesar-nos demais a vida e o pó gasto das ruas. Fechar os olhos e deixar a vida correr sem nós. Desafiar o medo; calar as dúvidas e a dor inteira nesse gole de silêncio que as leva.
Acordar contigo e demorar os meus olhos em cada pormenor pequeno de ti. E o mundo não ser nada. Nem as horas que passam, nem o dia que desmaia no rio, lá em baixo.
Sem ti o mundo importa demais. E as horas são horas porque a tua ausência lhes deu corda e elas fazem-se ouvir. Desabafar pelo silêncio - só porque ele pode existir. Essa confiança cega que nos desarma o peito e nos deixa ouvir o coração. Enlaçar as pernas no molde perfeito do teu corpo. Desenhar promessas de saliva no relevo fino do mámore das tuas costas. E o mundo não ser mais o intruso. Dissolver o mundo na calma a que nos abandonamos, como que escondidos na sombra.
Pensar que hoje me fizeste falta. E o mundo, de repente, importou demais.
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