Sentia saudades de chegar a casa e sentir a sua presença. O silêncio, de repente, adormecendo a correria das horas; a luz caindo suavemente no fio longínquo do horizonte.
Chegar e procurar o seu corpo: pequeno e macio e deixar que o seu cheiro semeie no ar a acalmia de um segredo. Enrolar os seus dedos nos cabelos finos que se estendem sobre o seu peito.
Deixar arder no fogo mudo que trazia no fundo do peito todas as palavras vãs e pequenas. Desaparecer inteiro para dentro desse gole de vida e continuar aí como se não houvesse mais nada para ser dele.
Apenas esse pedaço de noite quente a adormecê-lo no seu colo; o encaixe perfeito dos seus corpos a apagar as horas e a diluir os cansaços.
Demorar na nudez revelada da sua verdadeira pele e amá-la mais por isso: nesse amor feito dos estilhaços do caminho; esse amor onde o cansaço e o sonho nascem do mesmo chão. Vê-la dormir um sono quieto de criança e passear os olhos pelo quarto e pela cidade iluminada, ao fundo. Tê-la e aquilo ser-lhe algo era tudo. Era experimentar o outro lado do medo - depois do medo de não encontrar, agora o medo de perder. De perder o chão onde pousava o seu corpo; de perder a esquina que o tempo parecia não dobrar.
Imaginava a cidade a nascer dentro daquele quarto com a sua confusão de ruas e a sua infinita areia de vozes. Teve medo. Ao fundo, havia uma esquina. Ele apertou bem a sua mão na dela.
Seguia com ela o caminho.
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