Enquanto a cidade dorme e tudo se emudece
E teus beijos são como promessas
Que a tua boca pequena me fizesse
Há na minha pele o arrepio do espanto
Uma catedral inteira, um delicioso encanto
Um abismo de chão e de silêncio
Um corredor de luz e sofrimento
E tudo é um precipitar do corpo
Um agigantar inteiro da minh' alma
Como se o dia ainda não estivesse morto
E tudo já chegasse só com calma
Já dormem no céu as cores do mundo
E tudo é somente um prazer tão profundo
Que nascem dos olhos com que beijo
Ondas fulgurantes de desejo
Há flores caídas no teu cabelo
Primaveras desmaiadas no teu regaço
És tu quem ouve o meu apelo
E tudo no mar cheira a sargaço
Demora o ar perto dos meus lábios
E esquecida, serena, junto a mim
Do mundo, da lei e dos seus sábios
Entrega-me, plena, o teu corpo de cetim
Não vás enquanto o mundo se esquece
E se cala o rumor das avenidas
Enquanto tudo o que é furor se desvanece
E por ti me saram todas as feridas.
RM
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