Rewind

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Avô,

às vezes, já não ter o teu abraço é como nunca chegar a casa
as paredes erguem-se mas o telhado dos teus braços não está lá
nos corredores, a tua ausência intacta é como um pássaro aflito 
que mesmo as janelas abertas não deixam mais voar

às vezes, o fio do horizonte seca-me no fundo dos olhos
a saudade é como um segredo correndo no mar das minhas veias
em silêncio, estendo na varanda do meu peito todas as memórias
e imagino que andarás esquecido de nós nalgum jardim

às vezes, é quando durmo que corro feliz a acordar-te
a tua voz é a mão que agarra a minha no caminho
levanta-te, Avô, vem ver
o sorriso doce e infinito do poente

às vezes, ainda escrevo cartas que guardo para ti
ainda te digo que te amo num hábito fácil de verdade irresistível
às vezes, rasgo o silêncio pesado com o punhal aceso do teu nome
e sei, cá dentro, que não deixarei nunca de chamar por ti
 
RM

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