Ao Deus que inventou o azul dos teus olhos,
eu disse que não queria amor mais nenhum.
[não é preciso]
não sei se é próprio de um Deus sorrir mas continuei,
e falei-lhe dos nossos abraços como gavetas em que as nossas imperfeições nos uniram mais
e aproveitei para lhe lembrar que te prometi muita coisa que ainda não fiz só para haver futuro.
Ao Deus que não sabe o que nos chamar,
eu disse que não queria milagres.
[não é preciso]
não sei se é próprio de um Deus abanar a cabeça com doçura mas continuei,
e contei-lhe que não sei o que fazer com o verde da Aparecida, as palavras no meu peito e as mãos nervosas se tu não estás
e, já agora, mostrei-lhe as fotografias que vimos os dois outro dia, à noite.
Ao Deus que se esconde no lado de dentro das tuas mãos,
eu disse que não quero saber para onde vou.
[não é preciso]
não sei se é próprio de um Deus encolher os ombros mas continuei,
e pus-me a ler todos os postais da minha infância que tu ainda guardas
e, já agora, ainda hoje se ouve o meu riso por baixo das palavras.
Ao Deus que sempre me disse que estás à minha espera
eu disse que não sei rezar.
[não é preciso]
não sei se é próprio de um Deus piscar um olho mas continuei,
e escrevi o teu nome mil vezes na espera irrequieta do meu sangue
e, sem saber, escrevi com ele também o meu.
Ao Deus que inventou a Primavera do teu jardim
eu agradeci cada uma das flores.
são todas para ti, Vovó.
não demores.
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