primeiro, foste um fósforo numa noite escura.
ri-me muito contigo e o cheiro da tua pele foi uma maré cheia por cima de tudo.
depois, a tua boca ensinou-me a esperar.
havia silêncio e os teus olhos eram a luz no fundo dos meus.
primeiro, foste um fósforo numa noite escura.
depois, a saliva foi a tinta inventada para o papel-fogo da nossa pele
e quisemos despir-nos de luz acesa.
primeiro, fomos um poema ilegível.
depois, as linhas dos nossos braços rasgaram a noite
e ficou escrito que eras minha na diagonal do suor nas minhas costas.
primeiro, quis continuar a ir sozinho ao cinema ou ao café
depois, vi que já não era minha a sombra que vinha nos passeios
e telefonei-te três dias seguidos quando a luz do fim de tarde, de repente, me doeu.
primeiro, guardei a tua t-shirt branca na gaveta do fundo da cómoda sem pensar
depois, tive saudades tuas como quem espreita uma vizinha com uns olhos bonitos demais para se ficar longe
e voltei a telefonar-te.
primeiro, foste um fósforo numa noite escura.
depois, o escuro continuou a ser escuro
e a noite continuou a ser noite.
eu, era outro.
(porque era teu)
RM
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