Rewind

sábado, 11 de abril de 2015

se era amor, veio à paisana|

se era amor, veio à paisana, sabes?

primeiro, foste um fósforo numa noite escura.

ri-me muito contigo e o cheiro da tua pele foi uma maré cheia por cima de tudo.

depois, a tua boca ensinou-me a esperar.

havia silêncio e os teus olhos eram a luz no fundo dos meus.

primeiro, foste um fósforo numa noite escura.

depois, a saliva foi a tinta inventada para o papel-fogo da nossa pele

e quisemos despir-nos de luz acesa.

primeiro, fomos um poema ilegível.

depois, as linhas dos nossos braços rasgaram a noite

e ficou escrito que eras minha na diagonal do suor nas minhas costas.

primeiro, quis continuar a ir sozinho ao cinema ou ao café

depois, vi que já não era minha a sombra que vinha nos passeios

e telefonei-te três dias seguidos quando a luz do fim de tarde, de repente, me doeu.

primeiro, guardei a tua t-shirt branca na gaveta do fundo da cómoda sem pensar

depois, tive saudades tuas como quem espreita uma vizinha com uns olhos bonitos demais para se ficar longe

e voltei a telefonar-te.

primeiro, foste um fósforo numa noite escura.

depois, o escuro continuou a ser escuro

e a noite continuou a ser noite.

eu, era outro.

(porque era teu)

RM 

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