Esperaste-me, Mãe.
no princípio, deste-me o nome e acendeste o escuro.
Esperaste-me, Mãe.
os bolsos tão cheios de sonhos, a porta de casa que nunca mais deixaste trancada.
Esperaste-me, Mãe.
e dançaste-me na barriga ao som dos vinis que ouvias à noite.
Esperaste-me, Mãe.
e foi a tua mão que me lavou da pele o medo, a saudade, a tristeza.
Esperaste-me, Mãe.
e escreveste-me os postais mais bonitos que já recebi.
Esperaste-me, Mãe.
e ensinaste-me a fé das palavras e a escrever como quem chama.
Esperaste-me, Mãe.
e fumaste comigo todos os fins de tarde de Verão perto do mar.
Esperaste-me, Mãe.
e viste beijos nas falhas e abraços nas ausências.
(desculpa)
Esperaste-me, Mãe.
e percebi contigo que as Mães deixam com os filhos uma espécie de pergunta no mundo.
Esperaste-me, Mãe.
toda a vida, toda a noite, sempre no lugar onde começava o regresso.
Esperaste-me, Mãe.
a porta sempre aberta,
a roupa, às vezes, suja dos enganos do mundo.
e tu, sempre. sempre tu e os cigarros como se o mar estivesse por perto e houvesse luz.
Esperaste-me, Mãe.
e eu trouxe de ti a tal pergunta cravada no leito dos olhos.
Esperaste-me, Mãe.
(Obrigado.)
eu volto sempre a tempo de um cigarro e um beijo
que é como quem diz, minha Mãe, que és tu a resposta que vim ao Mundo para aprender.
RM | X.XI.MMXV.
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