quase como uma estrada que se estende como uns braços abertos
ou, então, um atalho trapalhão que se inventa só por causa do amor
os meus poemas falariam todos de ti, acredita
eu sei, mãe, que a poesia nos abre as janelas
que, sim, parece levar-me, às vezes, para longe -
é o mar que chama, é o vento que passa a perguntar
e eu vou com eles -
a tempo de ainda ver arder todos os poentes
a tempo de emendar a imperfeição dos dias ao colo do sonho
vou, sim, mãe, tu sabes.
às vezes, nos poemas ainda pode ser verão -
a pele anda nua,
os versos crescem como as ondas que dançam ao luar
e as horas espreguiçam-se devagar
por isso, me demoro, eu sei,
[desculpa]
sabe, mãe, que ando apenas a ouvir do mar a repetição doce de um segredo
e que o vento, às vezes, até me traz de casa o cheiro doce do teu perfume
por isso, mãe, não sofras
se os versos me atrasarem
põe-te a imaginar o mar feliz deitado inteiro numa praia no verão
sente do vento morno a meiguice que te lembra um sorriso meu
e espera por mim,
eu volto.
vou só aprender do mar segredos que ainda não sei
e ouvir do vento as histórias todas que ele traz no bolso
só isso.
se eu chegar tarde, não te preocupes
as janelas estão abertas - é verão
eu trepo o muro e entro.
na areia, deixo o teu nome escrito mil vezes
só para te agradecer tudo - só porque sim.
eu sei que o mar sabe guardar um segredo
mas que o vento, malandro, te vai contar tudo.
não importa.
obrigado, mãe,
por me ensinares a amar o mar,
o vento,
e pelas janelas sempre abertas -
como num abraço
tu só as fechas quando eu chego
e isso basta.
RM| V-II-MMXVII
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