São as mães quem nos ensina o verdadeiro nome das coisas.
Tu, minha querida, ensinaste-nos a pronunciar o amor até ao último centímetro possível - há que demorar o amor no fundo dos olhos, nos veios da pele, nas gavetas que trazemos dentro e, sobretudo, saber levá-lo sempre onde ele falte.
São, também, as mães quem nos ensina a escutar o silêncio - como um balão cheio de ar quente, como num abraço-de-lareira-acesa, pode ouvir-se igualmente tanto do crepitar do amor, tal como na certeza que existiu sempre quando, pelas tuas mãos e nos teus braços, todos os trapézios tiveram rede.
Foi contigo que aprendi a falar - a minha voz é, ainda hoje, a tua, o meu coração dança ao som da composição que tu fizeste com tanto empenho, doçura e infinita bondade.
E, desde cedo, não te importaste que eu desse nomes diferentes às coisas - onde os outros viam tristeza, eu via aprendizagem e crescimento; onde os outros viam erro, eu via uma oportunidade, redenção, esperança e perdão.
Via tudo isso e, digo-to sem qualquer dúvida, porque havia o teu amor que serviu para coser as fissuras todas, para reatar os nós mais apertados, para reparar com luz, o escuro das fendas mais fundas.
Por amor, as mães inventam nomes que não existem - tudo para que a estrada continue, o caminho atire em direcção ao infinito, o sonho cresça e o céu seja um telhado alto o suficiente para acomodar tudo isso.
Sentado no teu colo, os meus poros eram uma escrita que tu soubeste ler sempre - a minha pele veio da tua e continuas, até hoje, no firmamento iluminado dos meus olhos - levo-te comigo a ver do mundo coisas de que não descobri, ainda, o nome; trago-te comigo numa viagem que não sei, ao certo, onde me levará,
Como em pequeno,
Mamã, porque é que as coisas são assim?,
E, até hoje, o procurar no manual de sobrevivência que me legaste no sangue, a resposta que tu darias, que explicação doce seria a tua para os desaires e desencontros do mundo.
No fim de tudo, por cima de tudo, para lá de tudo, uma coisa que aprendi contigo - as coisas podem ter um nome diferente do que os outros lhes dão - por isso, vejo sempre esperança, ponho a dar pela enésima vez - como uma cassete que se repete vezes sem conta - o arquivo atento que te gravou dentro de mim.
Tal como me ensinaste, se nos faltam as palavras, há que inventar outras - desde que se possa continuar a falar de amor, de perdão, de dádiva, de felicidade e de futuro.
Obrigado, Mamã, por me teres ensinado a falar - e a falar assim.
Mais, obrigado por me teres mostrado que, sobre o amor, ainda não se inventaram as palavras todas - pode, por isso, haver amor muito para lá do que achamos ser possível.
Entre nós, há - e ainda bem.
Vou continuar a escrever sobre o amor e, com isso, sobre ti.
Vão faltar-me as palavras, eu sei, e vão ficar aquém de ti, todos os elogios.
Mesmo assim, que saibas sempre que te amo.
E, se estiver calado, lê-me nos poros as palavras mais antigas da nossa história.
Sempre foi amor, mesmo antes das palavras. E será depois delas.
Tu, eu e a nossa pele que será, para sempre, pó que se levanta e abraça numa estrada que se estreita num abraço sem fim.
Obrigado.
RM| XV-IX-MMXVIII
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