Acredito que saberás onde me encontrar. Não imagino do que me fizeste aí dentro. O que exactamente guardaste de mim, por entre a poeira suja e alta do Mundo. Ou imagino ou quero imaginar que aí dentro está tudo o que sou. E que me irás encontrar. O mundo fala-me de ti, sabes? Lembra-me as horas leves, acima do tempo e do seu espartilho. A minha memória recorda-te os passos e a exactidão de um olhar, banhado de luz, numa tarde de Outono. Não sei de que exacta matéria é feita esta memória. Talvez dos bilhetes de cinema, dos restos da vida de ontem que comeria amanhã e todos os dias. Até ao fim.
Gostava que te visses na minha memória. Que visses o que afinal fui eu capaz de inventar ou de adivinhar. E guardar como a mais absoluta das certezas. Tenho saudades dessas dádivas de que lembro a forma, o corpo e a intensidade com que mas deste e as guardei. Mas começo a esquecer-lhes a voz. Essa voz só tua.
Como uma música serena, num dia quente, na telefonia. Com a alma a boiar, livre do peso do Mundo.
Queria que as tuas palavras soubessem ser a luz que ilumina o escuro do meu silêncio. E que sentisse que me decifras, mesmo nesse meu silêncio teimoso.
Espero que no espelho dos meus olhos vejas o lastro de tempo que te fez um bocado de mim. E que mesmo que me recordes de maneira diferente, no meio das vagas do tempo que passa, o mundo tenha sido generoso e a humidade dos afectos se tenha também infiltrado aí.
Não estragues essa memória por favor. Porque mesmo que não a digas verdadeira, não a destruas.
Eu estarei sempre contigo. Nem que seja no sol que se derrete no mar. E promete o amanhã desconhecido. Há quem vá pelo medo. Eu sigo pela esperança.
Até um dia. (Espero que seja o mesmo.)
Sem comentários:
Enviar um comentário