e sei-o no instante em que os teus olhos demoram nos meus
fico a segurar na memória a infinita doçura do cheiro que a tua boca deixa na minha
e sei que te importas
sei que te importas quando esperas por mim no sofá a olhar a porta
e sei-o porque o sorriso da tua boca é como uma janela aberta sobre o mar
agarras-me com o teu corpo todo como se fosses toda tu umas mãos com saudade
e sei que te importas
sei que te importas quando entras comigo na chuva
e sei-o porque entrarias comigo no escuro de um abismo qualquer
e juntos veríamos esperança na desolação triste do mundo
e sei que te importas
sei que te importas quando a tua boca de súbito desaprende a fala
e sei-o porque o teu corpo é uma valsa desgovernada no salão do meu peito
mergulhas toda dentro de mim com a pele ardendo em súplica
e sei que te importas
sei que te importas quando não me deixas esperar sozinho a noite
e sei-o porque me ouves como se te deitasses comigo em frente a mil comboios
e toda a dor do mundo nos tivesse que levar aos dois de mão dada
e sei que te importas
sei que te importas porque nunca é tarde para morarmos os dois a mesma hora
e sei-o porque me esperas do lado de cá do cansaço, ali, sempre tão perto
como se toda a luz do mundo viesse do firmamento que a tua presença compõe
e sei que te importas
sei que te importas quando a tua pele me deixa escrever nela
e sei-o porque as palavras que te deixo nem sempre trazem flores ou beijos
e, no entanto, são também essas formas inteiras de te querer
e sei que te importas
sei que te importas quando procuras o meu rosto no reflexo do vidro
e sei que nos encontramos aí onde tanta coisa já existiu
sei também que podemos ser tão grandes quanto a memória de um vidro que a tivesse
só para sabermos, no fim de tudo, que eu sei que tu te importas
(e eu também)
RM
Sem comentários:
Enviar um comentário