Os meus sonhos têm a medida que só tu me mostraste ser possível.
Teres ensinado a uma criança que o sonho é um caminho, fez de ti o promontório maior da minha vida.
Sabes, volto muito ao nosso banco - por vezes, tudo parece ainda igual - paira no ar um silêncio confortável em que se ouve, ao longe, o barulho de vida vindo do ventre feliz da nossa casa e eu sossego, finalmente, um bocado.
Continuo a escrever-te - o meu silêncio está repleto de fotografias que te queria mostrar, de palavras que acumulo nos bolsos das calças, dos casacos; nas palmas das mãos uma cruz a dizer-me que nunca me esqueça de te lembrar.
[e eu nunca me esqueço]
Falo-te como se os teus olhos me fitassem, ainda, do nosso jardim; como se, ainda, percorresses comigo as quintas de lés a lés e, no verde que recomeça todas as primaveras, repousasse verdadeiramente o sentido do mundo e de todas as coisas.
A cada ano que passa, fazes-me mais falta, meu malandro.
Os sonhos que vou realizando queria que fossem presentes para ti - em cada um deles, a vénia que te devo, o serem todos eles flores de uma árvore que tu cuidaste, mimaste, ajudaste a crescer e nunca deixaste para trás.
Todos os anos, neste dia, pergunto à Vovó,
Milinha, achas que foste amada pelo Vovô?,
E, a cada ano, sempre a mesma resposta,
Meu querido, sei que o teu Avô me amou a vida toda e eu a ele,
E na luz dessa resposta, o escuro da noite e da vida, de repente, esbate-se todo.
Outro dia, alguém que me dizia,
Oh doutor, bastava que víssemos o casaco do seu Avozinho no cabide e todos sabíamos o que tínhamos de fazer,
Eu sorrio - o teu casaco ainda pendurado no cabide do meu coração, tudo de ti guardado nas gavetas da cómoda velha que eu sou por dentro.
Foste o maior homem que conheci.
A Vovó outro dia,
O teu irmão está igual ao meu marido e tu lembras-me muito o meu pai,
Para mim e para o A. ser um Mesquita é ser vosso - é sermos os netos da Milinha e do Bininho e isso ser, até hoje, o maior dos abrigos, a maior das lições, a maior das bênçãos e das dádivas.
Mais uma vez,
Obrigado, meu querido,
Até ao fim da minha vida que eu seja um altar onde vivas e onde não se apague jamais a luz imensa que tu foste.
Até ao fim,
Um casaco pendurado num cabide,
E tu seres, na minha pele, um abraço que não acabe nunca.
Parabéns, Bininho!
RM| X|II|MMXVIII
Sem comentários:
Enviar um comentário