Rewind

domingo, 16 de março de 2008

O trilho

Eis que se começa a andar. E primeiro se firmam os pés na areia. Titubeando, começamos a viagem. Quantas vezes na vida é nosso este momento? O momento em que podemos tudo, porque nada está dado; o momento em que decidimos começar e, uma vez começando, damos passos no escuro em direcção ao que não sabemos.
Que aqui se inicie uma viagem. De comboio, por sinal. Sempre gostei dos comboios. Neles se podem as pessoas sentar. E descansar o peso dos seus corpos e das suas vidas. Com vista para uma janela. E seguir com os olhos, o mundo que passa. Hoje tomo aqui o meu lugar. Nesta viagem sem destino, mas tambem sem revisor, que é o que se pode prometer como aliciante.
Nunca gostei de viajar sozinho. Por isso, sim, talvez seja um convite a quem partilhe do gosto de ver o mundo por uma janela. E, em cada paragem, vê-lo entrar, sentar-se e esbarrar com o nosso. Quando se viaja segue-se com o Mundo. E roda.se com ele um pouco.
Que trilho seguimos hoje? Talvez seja melhor aqui para o maquinista inexperiente prometer o trilho dos principiantes, não vá o Diabo tecê-las e o negócio se esboroar antes do princípio.
Não há aqui propaganda colorida, nem luzes de neon e umas miúdas bonitas ( embora este comboio tambem siga por cabo) mas, em compensação, também não há letras manhosas de leitura difícil para míopes.
Desde logo a viagem é para todos. Sem nada a pagar. Sim, à pala, sem mais! "Grátes!" que é mais vernáculo.
Não, não há descontos para idosos, não há promoções para jovens. Não se pretende uma excursão do INATEL, nem uma viagem de finalistas a um qualquer destino do Sul de Espanha. Venham as pessoas.
E que nesta espécie de Arca de Noé se guardem impressões do Mundo, visões e cheiros, ritmos. Digitais, claro está. Não há roteiro. Não há destino. Tão somente há, e em grande medida, uma vontade desenfreada de correr o Mundo e ver o que nos espera o caminho.
Seremos capazes? Até quando? Não sei. Mas que se caminhe sempre. E muito. E que, a cada paragem se traga e se carregue a nossa vida de tudo o que há lá fora. E que entre e saia quem quiser. E que volte sempre. Que é a vida senão uma encruzilhada?
Começemos. Próxima paragem: terra dos sonhos.

2 comentários:

Mistral disse...

"Quando se viaja segue-se com o Mundo. E roda-se com ele um pouco."

Poesia pura, monsieur R.
Hei-de espreitar muitas vezes este trem.

*
O apeadeiro "luz Oblíqua"

Bárbara Bentes disse...

Sempre gostei de viajar de comboio...ou não fosse esse o meu quotidiano!?Mas ter-te por companhia e sem revisor,é bom demais.Aqui começa mais uma viagem,irei trazer gente nova,sei que serão por ti bem-vindos...
Um beijo