para selar nos teus lábios a verdade luminosa deste engano
e para voar como os pássaros num céu que não desaba
voltaremos sempre no sorriso das flores que se envaidecem
e não traremos mais nos olhos a fadiga das coisas que se quebram
pois nossas mãos serão tão fundas como um rio já sem margens
voltaremos sempre nas janelas que se abrem na manhã
e hei de caminhar perdido no ventre da cidade que desperta
para repetir somente o espanto repentino do teu vulto
voltaremos sempre nas sombras que dançam em redor do fogo
para dentro da noite eu vestir o teu corpo inteiro da luz de mil promessas
e não deixar o mar devorar a infinita graça do teu nome
voltaremos sempre escondidos nos braços largos de um jardim
e a frescura tenra das fontes e dos caminhos será como dantes o espelho
onde o meu rosto correrá sorrindo a encontrar o teu
voltaremos sempre para cavalgar as ondas que não vimos
e pisar a chuva que amacia o escuro das ruas que se alargam
para passar secreta a memória dos teus braços junto aos meus
voltaremos sempre no som de uma porta que se abre devagar
como se em tudo ardesse o calor morno de um abrigo generoso
e debaixo da nossa pele houvesse ainda segredos para contar
voltaremos sempre no sangue que decorou do outro os nomes todos
e ao chegar perto do peito estremeceu como se visse
que também o silêncio é sempre forma de chamar-te
RM
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