06.03.
Gó,
Chego à porta de tua casa.
O dia está limpo e no jardim, do lado de dentro do portão, já há flores.
São camélias.
São camélias.
Decido chamar-te:
Gó
E tu vens logo, como sempre.
Trazes nos olhos uns braços que chegam ansiosos e dizem saudade.
Ricardinho, como está? Que saudades, Ricardinho!.
Quase posso jurar que ninguém me chama Ricardinho como tu, malandra.
Como ninguém cozinha bifes com ovo ao Domingo à noite como tu.
Ou ninguém tem uma fé com a luz e a verdade da tua.
Venho ver-te para que o tempo pare. Venho ver-te para falar do Avô com quem o conheceu tão bem.
Venho ver-te para nos rirmos das cócegas que eu e o A. te fazíamos na missa ou de quando nós os dois te pedíamos para ver uma galinha por dentro.
Venho ver-te porque é tão fácil e os teus braços têm sempre o tamanho do que me falta.
Dizes-me
Sabe o que me alegra muito, menino? Que seja sempre tão amigo dos seus Papás, das suas Avózinhas e do Dédé.
[Dédé para sempre.]
E teu, respondo-te.
Sim, e meu.
Conheces-me tão bem, penso eu.
O meu coração é como um portão fechado onde há um jardim com flores.
E, juntos, os meus Pais, os Avós, o A. e tu são uma promessa de Primavera no chão de tudo.
Gosto muito de ti, Gó.
Vim mesmo foi para te dizer
Obrigado.
mais uma vez.
mais uma vez.
E lembrar-me de como o Jesus era bonito na tua boca, de como agradeceste todas as nossas alegrias como se fossem as tuas e de como nos adoçaste as tristezas do caminho.
Venho porque me apetece ser criança outra vez - e correr nos terraços de casas onde os Avós não morrem, os Pais não envelhecem e as empregadas são do sangue que o nosso coração queria ter dentro.
[e tem]
Venho para gostar de perto - tu sabes que eu só gosto assim.
Venho, porque sim.
Venho por tudo.
E virei sempre.
Só para chamar
Gó!
E caber inteiro no teu abraço.
(sabes, ou eu não cresci ou tu tens sempre o tamanho do que me falta.)
Parabéns, Gó!
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