Rewind

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

tua boca|

Tua boca dança na minha como se brincasse
E tua pele rasga a minha com uma fome sem igual
Teus olhos são os de um pássaro que voasse
Sobre um abismo escuro e fatal

É o mundo que morre sozinho na vidraça
E tu és quanto a vida me prometeu
É a multidão vazia e só que ao longe passa
E meu coração bate inteiro junto ao teu

As pedras do caminho chamam por ti
E os lençóis querem dormir no teu perfume
Traz outra vez as saudades que te despi
E deixa-as arder no ciúme

Fica, meu amor, na noite que te abriga
E demora teus olhos no amor dos meus
Fica, amor, porque te obriga
O impossível que é dizer adeus

RM

és tu|

És tu quem trago presa no fundo do olhar
E é teu o céu que senti nascer-me nas veias
És tu quem sinto no meu peito passar
No fogo da saudade que incendeias

Rodam as horas no vazio dos ossos e da voz
E lembro-te no reflexo do dia que se deita
Voltam as horas em para nós
Tudo era uma maré viva e perfeita 

Teus beijos foram frutos por colher
E minha pele uma Primavera tardia
O desejo era a vertigem do anoitecer
Dormindo sobre uma promessa de magia

Trago as tuas mãos ainda dobradas nas minhas
E tudo é ainda uma alameda de regressos doces
Trago ainda no rosto as linhas em que adivinhas
Tudo quanto eu queria que tu fosses

RM




domingo, 16 de fevereiro de 2014

tu|

Que a tua boca me desfaça em mil pedaços
E do silêncio se ergam as promessas
Que a tua luz seja eterna no ventre dos espaços
E seja sempre por mim que tu regressas

Que o amanhecer te devolva o caminho
E no pó da estrada meu corpo te abrace
Que das feridas sare sempre o espinho
Como se de um sonho eu te acordasse

Deixo flores nas ondas do teu cabelo
E levo na língua o sabor de um fogo que não cessa
Deixo na memória que vive um apelo
Como um vento de verdade que me atravessa

Por ti habitei a morada infinita da saudade
E quis procurar-te sempre no que resta
Por ti procurei no céu o chão da liberdade
E fiz da flor do sonho uma floresta

RM

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

regresso|

Voltas na maré que se deita na praia
E trazes contigo todos os beijos que não tive
Voltas na luz quente que desmaia
E és do sonho o grito que contive

Recordo na tua pele a estrada em que me encontrei
E regresso ao céu de todas as promessas
Rumo à cama em que te deitei
E gasto em ti o tempo já sem pressas

As lágrimas são uma chuva caída
Sobre os telhados em que a saudade te espera
Há na noite um rumor de despedida
E em meu peito uma dor que me incinera

Volta, se puderes, na luz do dia
E vem demorar os lábios junto aos meus
Volta para seres na voz de tudo a magia
E não o chão vazio do adeus

RM 

fiz-te a vontade|

É no fogo doce dos teus beijos que meu peito se afunda
E é no vale imenso do desejo que te decoro inteira
Depois de ti sou um mar sozinho que se inunda
E do sonho desaparece a fronteira

Fiz-te a vontade e fiquei
E comecei o verso com o teu nome
Fiz-te a vontade e provei
Com a boca do espírito eterna fome

Somos dois náufragos na promessa do nosso amor
E são cidades inteiras as memórias que nos ataram
Lembro no branco das manhãs o teu rumor
Como um segredo doce que me roubaram

Não sei esperar por ti sem espreitar as ruas
E procurar-te nos lugares onde o sol não se contenta
O meu caminho são as saudades que trago tuas
E o teu corpo uma Primavera infinita que se inventa

RM

por ti|

Amei-te com as palavras que o vento te deixou no peito
E dancei contigo no ventre de cada Estio
Envolvi teu corpo no fogo do sonho refeito
Como num vício louco e doentio

Quebrei todos os vidros que te cercavam
E apontei lá longe o sonho que existia
Se todos os versos te nomeavam
Era meu corpo que o pedia

Ao ataque dos teus olhos eu quis render-me 
E na tua boca assinei a rendição
As curvas do teu corpo pareciam conhecer-me
E não saber dizer que não

Sem ti o rumo foi sempre incerto
E a palavra morada inútil e vazia
Desejo no sangue saber-te perto
E encontrar teu gosto na maresia

RM

Mãe,

Que flores são as desta Primavera
Em que o perfume do tempo se demora
Em tudo vive a promessa que fizera 
De nunca querer ir embora

Há sonhos que dançam na luz do que vivemos
E um abrigo nasce sempre na pele do teu abraço 
Haverá infinito no caminho que faremos
Se é a ti que eu levo a cada passo

Que solidão na madrugada romperemos
Para juntos inventarmos um regresso
Que diálogo feliz retomaremos
Em que a verdade é tudo o que confesso

Há em mim alegria ao fim de cada dia
Por dormir sob o tecto de luz que tu seguras
No rosto de cada manhã que principia
És sempre tu, inteira, que perduras

RM




domingo, 2 de fevereiro de 2014

tu|

Deixei no fundo dos teus olhos o sentido do caminho
E pousei nas curvas do teu corpo o sonho que a ti confesso 
Longe da luz do teu rosto serei da sombra sempre o espinho
Esperando na manhã o vento eterno do regresso

Por ti vi nos sentidos abrir-se um mar imenso
E vi dançar na brisa primaveras inocentes
Por ti ardi na brasa de um sol intenso
Ao guardar na pele a verdade do que sentes

Foi numa dessas tardes amplas em que as ondas estremecem 
E em que o vento é um galope rápido que se some
Que meu peito quis que se dissessem
Todas as promessas vivas do teu nome

Foste o pecado que provei sem ter querido
E teu corpo foi de todos os altares o meu abrigo
És um milagre de luz sobre as coisas sempre repetido
E és como uma ponte de fé sobre o perigo

RM

sábado, 1 de fevereiro de 2014

depois de ti|

Desisto na tua pele de habitar o tempo 
E sou inteiro do sonho que me dizem os teus braços
Sou maior depois de em cada momento
Inventar contigo o céu no frio vazio dos espaços

Encontrei no teu peito uma sombra no deserto
E plantei flores na terra húmida do teu ser 
Senti na pele que o teu lume estava perto
Ao ver no horizonte a luz esmorecer

Inventei nas estrelas um destino
Que me levasse os lábios ao teu segredo
Quis que o amor fosse um grito repentino
Um improviso livre e sem enredo

Amei-te porque todos os silêncios foram nossos
E o mar dos meus olhos era a ti que procurava
Viver foi suave por entre os destroços
Porque o teu nome era o infinito que habitava

RM