Reconhecerão sempre os outros a nossa intenção naquilo que fazemos? Aquilo que verdadeiramente pusemos na semente da vontade que nasceu de nós? O que importa para o outro que recebe a nossa acção - o resultado ou a verdadeira intenção? Ou o que é que sente que efectivamente o atingiu?
Tenho pensado nisso de, por vezes, nos falhar o resultado e nascer por nossa mão algo inteiramente diferente do que foi o nosso desejo. Como se se quisesse chuva e viesse um dilúvio; como se se quisesse uma brisa e caísse um vendaval. O que fica gravado de nosso na espessura dos dias? O que ficará a falar por nós na lembrança do nosso nome?
Como provar que a verdade é tudo o que não aconteceu? Como mostrar que o que não se vê e não tem corpo é, sim, o que queríamos ter dado para se guardar?
Estranho quando o nosso amor por alguém não veste um corpo à sua medida. Quando a nossa vontade imensa e silenciosa que guardamos cá dentro e só nós podemos ouvir não vive numa voz que a diga numa harmonia perfeita.
Ficaremos sempre reféns do que não frutificou das sementes que deitamos ao chão?
A qual de nós se agarrará o outro mais facilmente - ao que verdadeiramente existiu mas sem um corpo visível ou ao que existiu só por engano num corpo imperfeito para falar de nós?
Estranho como pode o homem ficar preso entre um amor e desejo sem corpo e a sua manifestação por sombras que não alcançam a pureza e a profundidade do que sente.
Talvez o que nos salve seja a capacidade dos outros verem sem olhos e amarem sem corpos a nossa verdade escondida sobre eles.
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