o teu cheiro queima-me a pele e nas sombras quase vejo o teu corpo
às vezes, se demoras, tenho medo
e as horas sobram como um deserto que cresça devagar
às vezes, penso que o pó das ruas te engolirá um dia inteira
e tenho medo
os meus dedos escrevem o teu nome antes que a fome das ondas o leve
e espero cá dentro que essa não seja a caligrafia de um adeus
às vezes, se demoras, tudo é longe
e o mar é o espelho que guarda a mágoa da ausência dos teus olhos
a noite é um labirinto longo de ferro e solidão
e faltam as tuas mãos para que se abram de vez mais mil janelas
às vezes, tenho medo de não poder beijar mais os teus lábios por cima do silêncio
e deixar escritas no vidro da janela do quarto, quando chove, as saudades que vou ter o dia inteiro
às vezes, tenho medo que o teu nome não te traga mais quando te chame
ou de me esquecer como se anda na estrada florida do teu ser
às vezes, só às vezes, tenho medo
de que as luzes que se apagam neste quarto quando sais
sejam as do dia em que, por ti, por entre o escuro, eu aprendi o amor
e em tudo a luz pousou serena para ficar
RM
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