devagar, as sombras dançavam todas no espaço aberto do meu peito
e havia luz no ventre rasgado da janela que me abrias
a tua boca deixava na minha o sal de tantas marés longínquas
enormes, as falésias sempre apontavam docemente o céu sereno
e ainda agora me acorda na pele a frescura de um orvalho a dizer saudade
os teus olhos eram a casa onde todas as ondas rebentavam
luminosas, as dunas gemiam aos dedos do vento urgente que passava
e, em silêncio, eu ficava guardando de ti o mapa do caminho
os teus dedos eram o chegar a casa e ligar a música
esfomeados, os teus olhos procuravam os meus dentro do escuro
e as veias eram todas metáforas do nosso amor
tu, o teu corpo, a tua boca, os teus olhos, os teus dedos
inteiro, o meu corpo a ceifar dentro do teu o medo, a dor e a distância
sabes, eu podia ficar sentado toda a vida ao poente doce do teu sono
e as cinzas sorririam sempre no arrepio da manhã que vem beijá-las
não vás.
ainda é cedo.
RM
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