sentar-me à mesa
e a ternura das coisas mais simples
uma mesa comprida como uma estrada de um sonho
no tecto a luz sempre farta da esperança
e as portas abertas esquecidas do medo
sentar-me à mesa
e a ternura das coisas mais simples
a pele das mãos que nos guiam dentro da noite
os risos que a memória emoldura na doçura da saudade
e as horas suspensas no silêncio fresco do jardim
sentar-me à mesa
e a ternura das coisas mais simples
e o ir-se ficando mais um pouco
pendurados todos no hábito fácil de um amor sereno
no fundo dos olhos a guardar-se a luz que enche o vazio que o coração não consente
e decorar-vos a todos como se tudo fosse ser eterno em vésperas de sombra
sentar-me à mesa
e a ternura das coisas mais simples
lembrar-me do sorriso de um avô que me habituei a esperar
e nas janelas abertas para dentro da noite
desejar que algures a minha saudade se ouça
sentar-me à mesa
e a ternura das coisas mais simples
abraçar aqueles que amamos e imaginar que podemos não os deixar ir
inventar a interdição da distância pois que
amar é também precisar desesperadamente de ver com as mãos
sentar-me à mesa
e a ternura das coisas mais simples
a mesa longa como uma estrada
no tecto do mundo a luz farta da esperança
e o amor como um ritual em que nos cumpro
sempre.
RM
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