Imaginou-a ali na sala. Entrou em casa molhado das bátegas furiosas do vento e quis tê-la por perto. Quis que ela estivesse lá para lhe segurar o corpo nos braços pequenos. Para lhe ouvir em silêncio tudo o que não tinha voz mas que existia.
Havia uma janela enorme ao fundo da sala. Imaginou-a ali quieta vendo a cidade dormir e a fumar. Chegou devagarinho e surpreendeu-a. Agarrou-a pela cintura e colou o corpo molhado ao dela. Ela arrepiou-se. Ele sussurou qualquer coisa aos seus ouvidos. E semeou-lhe beijos pequenos no pescoço alto, colhendo dela o cheiro suave.
Agarrou-a com força. Via nos olhos dela a luz espelhada da noite. E ela virou-se para ele. Tudo o que ele queria eram aqueles olhos a verem dentro dele. Os olhos dela a pedirem que ele ficasse.
Sentia um ímpeto tão forte no corpo que não sabia onde pôr os olhos e a boca. As mãos tinha-as no cabelo dela descendo, às vezes, pelos ombros até ao fundo as costas. Ela ouvia-lhe o coração e ele ouvia-lhe o corpo a incendiar-se devagar para depois ser a expiação de todos os seus males.
Ela despiu-lhe o dia molhado do corpo. E com um silêncio de gestos beijou os cansaços da sua pele. Escutou-lhe os segredos e fez-se dele nos braços compridos do seu amor.
Ele olhava-a sempre com aquele amor do estômago a que se chama desejo. Sentiu que nada mais falava para além da vontade acesa de ficar ali nos braços dela. De ver adormecer as formas do corpo dela com o sabor dele na pele.
Ela agarrou-o, encaixou-se no peito dele e dormiu. Ele já não estava cansado. Olhou-a a dormir e cobriu-lhe o corpo com o seu. Sentia o ar dela bater-lhe ao de leve na pele.
Sabia que a amava. E tinha vontade de caber inteiro no fundo dos seus olhos castanhos.
Adormeceu. E amou-a mais por saber que se encontrariam em sonhos.
*imagem do filme: "Le Fabuleux Destin d' Amélie Poulain"
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