eu amei-te primeiro.
lembras-te disto escrito no espelho do quarto?
tu dormias e eu quis que os teus olhos me encontrassem, mesmo depois de sair.
e é verdade, fui eu quem primeiro te amou.
foi contigo que tive vontade de ficar e foi contigo que me comecei a atrasar para tudo o que fosse a tua ausência.
sabes, quem ama começa por andar sozinho por uns tempos - traz quem ama debaixo de cada palavra e dentro de todos os abraços.
quem ama procura no silêncio quem nos chame.
e tu chamaste-me.
o amor veio depois disso - a minha cama passou a ser nossa, os meus discos passaram a andar contigo para todo o lado.
amor, assim imagino que estás sempre comigo,
e, sim, dentro desses discos estão as minhas mãos descobrindo no teu corpo que o amor é todo sangue.
estão todas as vezes em que dançámos - para mim, amor, dançar é mais puxar o teu corpo para perto do meu do que outra coisa qualquer.
o amor veio quando me apareceste de madrugada à porta de casa. chovia e tu querias só dizer-me que te magoei, que fui injusto.
tinhas razão.
o amor também é isto - amamos sempre mais quem nos abraça depois de um erro, amamos quem se sente à vontade dentro da nossa escuridão e nos vai sempre lá buscar.
eu amei-te primeiro.
ria-me contigo e dizia-te,
como em tudo, até no amor chegas atrasada.
mas não, chegaste a tempo.
é como com os discos - às vezes, temos só de os deixar tocar e tocar. de repente, descobrimos que as nossas línguas se prendem nas mesmas palavras, que os nossos braços querem atravessar juntos o resto da noite.
eu amei-te primeiro e quis deixar-te sempre isso escrito no corpo todo - nunca tive pressa, sabes?
lembra-te disso, por favor.
há discos meus no teu carro.
deixa que toquem e lembra-te.
amar é andar à vontade dentro da escuridão do outro e ir sempre lá busca-lo.
anda rápido.
tenho saudades.
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