Rewind

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

de noite, abre-me os olhos,

hoje teria sido um bom dia para vires cá, sabes?
 
tenho a saudade a arrefecer-me as mãos e ainda por cima chove muito.
 
a sério, amor.
 
há folhas por todo o lado na rua e eu só gostava de chegar contigo a casa.
 
lembras-te?
 
completamente encharcados os dois, as tuas mãos geladas e o vestido como um abraço apertado na doçura arrepiada da tua pele.
 
és maluco, gritavas tu, rindo-te mais cada vez que a chuva afundava o silêncio da noite sobre nós.
 
qual é o mal?, dizia-te eu, o meu corpo a acordar no teu a vontade de sermos eternos.
 
as minhas mãos dentro do teu vestido, os teus dedos escrevendo nas minhas costas algumas das coisas que me dizias ao ouvido.
 
os meus olhos dentro do escuro aceso dos teus - as nossas bocas acordando o fundo adormecido do sangue, as tuas pernas deixando na minha barba restos de amor e de magia.
 
dentro da cortina da chuva, ficámos sós.
 
a noite era o avesso de uma cama - mesmo assim, fomos o lume e o calor um do outro. e isso chegou. fomos uma cama do avesso. e isso chegou.
 
nessa noite, não sonhámos. 
 
não foi preciso, lembras-te?
 
por isso te digo, amor, que era um bom dia para vires cá.
 
chove muito, podias ir à varanda fumar um cigarro depois do vinho. e da música.
 
e depois,
 
és maluco, o teu sorriso tão cheio de coisas que só a minha língua dentro da tua boca podia perceber. os teus olhos com vontade de serem arrastados para dentro da onda enorme do desejo.
 
qual é o mal?, amor, qual é o mal? - a minha camisa rasgada, dentro de nós a ser hora de a maré ficar cheia.
 
chove muito, hoje. e a saudade gela-me as mãos, amor.
 
não demores.
 
hoje não quero ter que sonhar.

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